Agricultura
Importância do vazio sanitário no manejo da Ferrugem Asiática na cultura da soja
Muito se fala na necessidade de se cumprir o chamado vazio sanitário para o controle da Ferrugem Asiática na cultura da soja. Entenda o motivo!
Daniel Grossi - ESALQ-USP
Em notícia recente, de 10 de maio de 2018, o portal da APROSOJA publicou a estimativa atualizada para a safra brasileira da soja que deve ter novo recorde, podendo tornar o país o maior produtor mundial do grão, superando a produção dos Estados Unidos.
Este fato indica a grande importância do grão para a economia do país. Com isso, a Ferrugem Asiática, causada por Phakopsora pachyrhizi, a principal doença da cultura da soja tem potencial de causar grande impacto na agricultura brasileira.
Já utilizamos este espaço para comentar a importância desta doença na publicação Ferrugem Asiática da Soja - Sintomatologia, controle e manejo da resistência e também falamos sobre como o uso da tecnologia de aplicação pode ser um importante aliado no controle da ferrugem.
Agora, vamos entender o motivo pelo qual o vazio sanitário é uma das estratégias de controle mais eficientes desta doença.
Características da doença
Como já comentamos em outras publicações o fungo causador da ferrugem, Phakopsora pachyrhizii é um parasita obrigatório, que depende de um hospedeiro vivo sobreviver e se multiplicar, completando seu ciclo. Também já comentamos que o patógeno é favorecido por temperaturas que variam de 18°C a 26,5°C e um período de molhamento foliar de 8 a 12 horas. Nestas condições, o ciclo da doença é bastante rápido, de 6 a 10 dias entre a deposição do primeiro esporo e o aparecimento dos primeiros sintomas, causando, portanto, perdas consideráveis, dependendo da severidade da doença.
O ciclo
A doença se inicia com um esporo sendo depositado na superfície do hospedeiro. Como vimos acima, em situações ideais, os primeiros sintomas são visíveis depois de 6 a 10 dias e, alguns dias após o aparecimento dos primeiros sintomas, novos esporos são produzidos e disseminados pelo vento, infectando novamente a planta na qual o esporo foi produzido e outras plantas ao redor, fazendo com que a doença evolua.
Como mencionado acima, o esporo da ferrugem pode ser transportado pelo vento e ser transportado a grandes distâncias, fazendo com que a doença se espalhe por outras lavouras, cidades, estados e países.
Como já discutimos em outras publicações, com a evolução da doença, ocorre intensa desfolha e P. pachyrhizi tem a capacidade de sobreviver nas folhas em decomposição, por um longo período e então, infectar novas plantas no início da safra. Além da soja, P. pachyrhizi tem a capacidade de sobreviver em hospedeiros alternativos, sendo que alguns autores relatam que o patógeno consegue infectar 41 espécies diferentes.
Desta forma, a ausência de plantas de soja ou outros hospedeiros alternativos é uma maneira eficiente de atrasar o aparecimento da doença no campo.
Uma representação esquemática do ciclo da doença pode ser observada na foto abaixo.
A importância do vazio sanitário
Como vimos acima, o patógeno depende de um hospedeiro vivo para poder completar seu ciclo e multiplicar. Com isso, uma ferramenta importante para reduzir a quantidade de esporos presentes no ambiente e, consequentemente, atrasar o aparecimento e desenvolvimento da doença, é evitar a presença do hospedeiro principal do fungo durante a entressafra. Isso se consegue com a adoção do vazio sanitário, que consiste na ausência de plantas vivas de soja entre a colheita da safra anterior e o plantio da seguinte.
No Brasil, o vazio sanitário é um requisito legal. Os produtores devem respeitar o período que varia de 60 a 90 dias, dependendo do Estado, evitando o plantio e monitorando a presença de soja voluntária, que deve ser eliminada.
O principal objetivo e atrasar a entrada da doença na área e, com isso, minimizar as perdas e reduzir o número de aplicações de fungicida para o controle do fungo, contribuindo inclusive, para o manejo da resistência.
Nesta publicação, focamos no vazio como estratégia de controle da Ferrugem Asiática da Soja, mas esta prática é utilizada também no controle de outras doenças e outros problemas, como por exemplo o bicudo do algodoeiro.
Fonte Texto:
GODOY, C. V.; SEIXAS, C. D. S.; SOARES, R. M.; MEYER, M. C.; COSTAMILAN, L. M.; ADEGAS, F. S. Boas práticas para o enfrentamento da ferrugem-asiática da soja. Londrina: Embrapa Soja, 2017. 5 p. (Embrapa Soja. Comunicado técnico, 92).
APROSOJA BRASIL
REIS, E. M.; SCHEER, O.; ROVEDOR, J. Kudzú (Pueraria lobata) hospedeiro secundário de Phakopsora pachyrhiz, no Brasil. Fitopatologia Brasileira, v. 30, p. S130, 2005.
Fonte Imagem:
Agência EMBRAPA de Informação Tecnológica
REIS et al., 2005