Agricultura
Quebra de safra na Argentina impacta na alta dos preços da soja | BASF
Argentina vem enfrentando problemas climáticos e pode ter uma quebra na produção de soja superior a 20% o que impacta diretamente os preços da Soja.
Terceiro país no ranking mundial da produção de soja, a Argentina vem enfrentando problemas climáticos e pode ter uma quebra na produção de grãos de soja superior a 20% na safra 2020/2021, em relação as estimativas iniciais.
O país vizinho do Brasil foi impactado pela falta de chuva, que acabou atrasando o plantio prejudicando o desenvolvimento da soja em alguns momentos importantes do ciclo.
Embora os resultados da Argentina não sejam tão impactantes para o mercado, se comparados aos de Brasil e Estados Unidos, analistas acreditam que a quebra de safra por lá é mais um fator para os valores recordes que vem sendo registrados para a soja na Bolsa de Chicago.
Ele explica que a área plantada no país ficou muito próxima ao ano passado, cerca de 16,9 milhões de hectares, mas como no ciclo anterior já havia problemas climáticos, a expectativa para esta safra era otimista.
As mais recentes estimativas oficiais da Argentina projetam uma safra de 43 milhões de toneladas de grãos de soja. Assim, a queda não é apenas em relação ao que foi projetado, mas também na comparação com o ciclo 2019/2020, quando foram colhidas 49 milhões de toneladas do grão.
Luiz Fernando Gutierrez, que é analista da Safras & Mercado, ainda cita que referindo-se ao fenômeno climático provocado por um resfriamento excepcional das águas do Oceano Pacífico.
Ele lembra que em safras passadas o fenômeno já causou sérios prejuízos a produção da região Sul do Brasil. "Este ano chegamos a cogitar perdas significativas para o Rio Grande do Sul, mas o efeito maior realmente ocorreu na Argentina”, afirma.
Boletim divulgado pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires no início de maio revelou que a colheita da soja Argentina alcançava mais de 53% da área semeada, já que houve uma semana de tempo mais quente seco, favorecendo o trabalho das máquinas.
A boa notícia foi que, segundo o relatório, algumas áreas importantes para o cultivo da soja, como parte da província de Córdoba e o centro-norte de Santa Fé, apresentaram produtividades acima do esperado.
A Bolsa de Cereais não descarta revisar para cima as projeções, depois de diversos cortes seguidos nas estimativas para a soja no país. Mas, na avaliação da Safras & Mercado, a colheita na Argentina não deve ser superior a 45 milhões de toneladas.
Mesmo que os números ainda melhorem, os analistas concordam que o Brasil acaba sendo beneficiado pelo efeito que uma quebra de safra causa nos preços internacionais da commodity.
O ciclo de demanda crescente principalmente da China e de oferta restrita nas principais regiões produtoras no mundo vem garantindo preços recordes para a oleaginosa.
No caso argentino, a influência é mais forte nos subprodutos da soja, já que o país é importante exportador de farelo e óleo, diferentemente do Brasil, que tem maior foco nas vendas externas de soja em grão, principalmente para a China.
O especialista lembra que o governo argentino vem taxando as exportações agropecuárias nos últimos anos e que, no caso da soja em grão, as barreiras são ainda maiores, já que o país prefere taxar menos as vendas de produtos minimamente industrializados.
"Portanto não é uma concorrência direta, o fato da Argentina colher menos não quer dizer necessariamente que o Brasil pode ocupar este espaço, temos perfis diferentes na exportação do complexo soja, o custo industrial por aqui é muito alto”, acrescenta.
Brandalizze lembra que a Argentina é o maior exportador mundial de biodiesel, por exemplo. Neste cenário, enquanto o Brasil avançou de 70 milhões de toneladas de grãos de soja há 10 anos, para 136 milhões de toneladas nesta safra, a Argentina ficou praticamente estagnada: no mesmo período vem mantendo a produção de soja próxima de 50 milhões de toneladas de grãos.
“É um paradoxo, porque a fertilidade do solo argentino é excelente, melhor que muitas áreas no Brasil, a logística deles também é favorecida, poderiam ter evoluído muito mais”, avalia Brandalizze.
O fato é que, segundo as principais consultorias, a produção da América do Sul já está precificada, à medida em que a colheita está terminando. O mercado agora segue de olho na safra norte-americana, que vai determinar se os preços da soja seguirão o ritmo de alta nos próximos meses.
O analista Luiz Fernando Gutierrez acredita em leve queda somente no curto prazo, já que os contratos futuros vêm demonstrando isso. "Enquanto maio/21 em Chicago sinalizava US$ 15.84/bushel, novembro/21 apontava US$ 13.81/bushel, por isso estamos atentos”, diz.
Ele alerta, no entanto, que o mercado está muito "nervoso”, reagindo de forma até exagerada a qualquer notícia que envolva o clima nos Estados Unidos. Em meados de abril, por exemplo, informações sobre neve e geada em algumas regiões americanas fizeram a soja alcançar o maior patamar dos últimos 8 anos, cotada a US$ 16/bushel.
A Brandalizze Consulting concorda que os preços tendem a se acomodar provavelmente um pouco abaixo do que estão hoje, já que houve um aumento de 1,8 milhão de hectares na área plantada nos Estados Unidos.
Se o clima for favorável, a expectativa é de uma produção de 125 milhões de toneladas. “Neste caso, poderemos ver cotações próximas de US$ 12/bushel", afirma.
De qualquer forma, o analista ressalta que estes patamares ainda serão 50% melhores se comparados a safra anterior, o que vem garantindo boa rentabilidade ao produtor brasileiro.