Agricultura
Sustentabilidade do solo é construída pela base | BASF
A construção e a preservação do perfil do solo é um dos principais pilares para se desenvolver uma agricultura produtiva e sustentável em qualquer parte do mundo.
A busca pela condição ideal das terras agrícolas é vital para a humanidade. O problema é que esse valioso recurso natural devido ao mal uso está há tempos sob sinal de alerta.
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), por exemplo, tem chamado a atenção para o fato de que aproximadamente metade dos solos agricultáveis do planeta está degradado.
É um cenário que exige ações emergenciais, ainda que os resultados não sejam imediatos.
No Brasil, essas ações já vêm sendo colocadas em prática. Em 2018, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) apresentou o maior programa de investigação de solos do País.
O PronaSolos nasceu com o objetivo de mapear 8,2 milhões de quilômetros quadrados (820 milhões de hectares) de solos brasileiros até 2048, em escalas que vão de 1:25.000 a 1:100.000. Isso é quase todo o território nacional (851 milhões de hectares). Nos primeiros dez anos do programa já serão mapeados 1,3 milhão de quilômetros quadrados.
Segundo a Embrapa, o projeto demanda investimento total de R$ 4 bilhões para os 30 anos, e pode retornar à sociedade até R$ 185 para cada real investido. Esse tema é global, é nacional, mas também é individual, pois é impactado pelo que acontece dentro de cada um dos mais de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários do País.
Trata-se de mais de 41% da área total do Brasil (351 milhões de hectares), de acordo com o Censo Agropecuário 2017. E não precisa de muito para mostrar o quão significativo é ter um perfil de solo bem construído. Basta dois fatores da gestão de uma fazenda: o investimento feito pelo produtor em cada safra – fertilizante, sementes, defensivos agrícolas, maquinário, entre outros – e a produtividade das lavouras. Ou seja, de maneira simplória, é a definição se o agricultor vai ou não continuar ganhando dinheiro com a atividade.
Por isso é tão importante que se faça a análise de solo, até para conhecer bem as características de cada espaço, descobrir como está o nível de nutrientes e entender que cultura vai melhor ali de acordo com dada região edafoclimática.
O plantio de soja, por exemplo, demanda áreas bem drenadas, com solo mais profundos e que possibilitem bom desenvolvimento radicular e boa infiltração de água.
Por outro lado, o arroz irrigado já necessita de um perfil de solo adequado para o acúmulo de água em superfície. Esse é o começo da investigação sobre as condições desse perfil de solo, que vai da superfície até a rocha matriz e é dividido, basicamente, em três faixas chamadas de horizonte.
A construção de um perfil de solo ideal passa pela composição química e pela estruturação física. Na parte química, é fundamental haver o equilíbrio entre a famosa combinação de N, P e K (nitrogênio, fósforo e potássio) e tantos outros macro e microelementos, para que os nutrientes estejam solúveis e disponíveis para as plantas em quantidades suficientes para o bom desenvolvimento das plantas.
Quando já se sabe qual é a cultura adequada para aquela área, a análise de solo deve ser feita cerca de seis meses antes do plantio, para saber se há necessidade de realizar a calagem, procedimento feito três meses antes da semeadura para corrigir a acidez do solo e disponibilizar nutrientes para as plantas.
Já a estruturação física diz respeito à forma como as partículas sólidas estão arranjadas e sua influência nos processos de penetração das raízes, aeração, infiltração, retenção de água e desenvolvimento de microrganismos.
Essa construção deve favorecer o trabalho das raízes da lavoura, de maneira que respirem bem e possam armazenar água e nutrientes suficientes para que a cultura expresse seu potencial genético na totalidade. Um problema comum em áreas de cultivo de plantas é a compactação do perfil do solo, o que prejudica ou impede todo esse desenvolvimento.
A compactação reduz a porosidade ideal do perfil do solo, cujo volume deve ser composto por 50% de poros, 40% de microporos e 10% de macroporos. Há casos em que é necessário fazer a escarificação, revolvendo o solo até uma profundidade conhecida para descompactá-la.
Um fator importante na construção e reconstrução do perfil do solo, são as plantas de cobertura.
Heckler et a!. (1998) destaca a importância das plantas de cobertura da seguinte maneira: "Essa camada funciona como atenuadora ou dissipadora de energia, protege o solo contra o impacto direto das gotas de chuva, atua como obstáculo ao movimento do excesso de água que não infiltrou no solo e impede o transporte e o arrastamento de partículas pela enxurrada. Dessa forma, minimiza ou elimina a erosão. Protege a superfície do solo e, consequentemente, seus agregados da ação direta dos raios solares e do vento. Diminui a evaporação, aumentando a infiltração e o armazenamento de água no perfil do solo, promovendo na camada mais superficial temperaturas mais amenas favorecendo o desenvolvimento de plantas e organismos. Com sua incorporação lenta e gradativa no solo, promove aumento de matéria orgânica, que é fonte de energia para os microrganismos. Ocorre também aumento da atividade microbiana que, aliada à desmineralização, torna disponível nutrientes às plantas, induzindo melhoria na produtividade. Sua presença protetora promove o controle das plantas daninhas, fator decisivo para o sucesso do SPD. A palha é fundamental para a cobertura permanente do solo, pois mantém ou melhora atributos físicos, químicos e biológicos e, portanto, a qualidade do solo."
Semelhantemente, Séguy & Bounizac (1995) atribuem à camada de palha o papel de "uma bomba recicladora de nutrientes", ilustrando este comportamento da seguinte maneira: "o que se tentou fazer é reproduzir na agricultura o equilíbrio dinâmico que a natureza faz na Floresta Amazônica. Na superfície do solo, a decomposição da matéria orgânica da liteira funciona como uma válvula, liberando gradativamente os nutrientes. Esse fenômeno é o mesmo que acontece em plantio direto, na palhada de plantas como o sorgo, milho, milheto e braquiária que têm um enraizamento muito profundo, reciclador e reestruturador do perfil do solo. Essa fitomassa vai-se decompor durante o ciclo da soja plantada em seguida, liberando gradativamente os nutrientes para a cultura."
A alta produtividade das lavouras está diretamente ligada à condição do perfil do solo, por essa razão é imprescindível zelar por essa construção. Também porque essa estruturação bem-feita e bem preservada vai durar por muito tempo.
O agricultor deve sempre buscar orientação técnica de profissionais capacitados para analisar as condições do solo de sua fazenda e seguir suas orientações. Embora o Brasil tenha potencial para até três safras por ano em determinadas culturas, a agricultura é uma atividade perene. Mas para ser duradoura, tem de ser sustentável e para isso deve-se realizar um diagnóstico preciso de tempos em tempos.