Agricultura
Sensoriamento remoto: a revolução que as novas tecnologias estão trazendo para a agricultura brasileira | BASF
Satélites, sensores, drones. Tecnologias que no passado eram usadas para experimentos espaciais, até para estratégias em tempos de guerra, se transformaram em grandes aliadas da agricultura moderna.
Ver um drone voando pela lavoura não é mais privilégio de grandes propriedades no Brasil. Cada vez mais a tecnologia avança, com levantamento de dados e cruzamento de informações em tempo real capazes de fazer a eficiência crescer de forma exponencial.
Mas quais serão as principais tendências quando o assunto é sensoriamento? Neste conteúdo vamos relembrar o que já é realidade no campo e saber um pouco mais sobre o que está por vir.
O conceito de sensoriamento remoto está relacionado ao conjunto de técnicas e procedimentos tecnológicos que visa à representação e coleta de dados de uma superfície especifica sem a necessidade de um contato direto. Toda a informação é obtida por meio de sensores.
Algumas tecnologias nesta linha já fazem parte da rotina de uma parcela expressiva dos produtores rurais no Brasil. Na telemetria, por exemplo, os sensores acoplados às máquinas agrícolas permitem o controle das operações em tempo real. Caso seja possível manter as máquinas conectadas, os ajustes são feitos ainda em campo. Alguns softwares e plataformas geram relatórios que permitem otimizar esta operação. Por meio das ferramentas de telemetria é possível saber qual máquina está eficiente, bem como custos operacionais como combustível, reposição de peças e manutenção em geral.
Sensores para monitorar condições meteorológicas e hídricas também são cada vez mais presentes nas lavouras, enviando informações preciosas para determinar ações de irrigação ou pulverização, por exemplo, que são mais eficientes quando realizadas com temperatura, umidade e ventos adequados.
Outra forma comum de sensoriamento é aquela obtida por meio de imagens de satélite. Algumas soluções podendo serem encontradas de forma gratuita, inclusive. O foco é o monitoramento do que está ocorrendo com a plantação e ambiente principalmente do ponto de vista agronômico. Normalmente o resultado é um esquema de cores que indica qual a gravidade do nível de stress nas plantas, por exemplo, uma ferramenta conhecida como NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) que na sigla traduzida para o português significa Índice de Vegetação da Diferença Normalizada.
Mas a grande revolução aparece com a maior adoção do uso de VANTs – Veículos Aéreos Não Tripulados, principalmente os drones, para a coleta dos dados, que chegam muito mais apurados facilitando a interpretação. As principais utilizações são: levantamento de pragas, doenças e plantas daninhas, identificação de falhas no plantio e manchas de fertilidade, ocorrência de nematoides, contagem de plantas e animais, além da restituição de linhas de colheita e pulverização, algo que já vem trazendo excelentes resultados em culturas como, por exemplo, a cana-de-açúcar e café de montanha.
ANÁLISE EM ESCALA
Um dos principais desafios do sensoriamento remoto é reunir, processar e interpretar o grande volume de informações provenientes de várias fontes – máquinas, sensores, satélite e drones, entre outros. Nesse sentido, plataformas especializadas em agricultura digital, como a xarvio® Field Manager, tornaram-se aliadas importantes dos produtores. Com o uso de softwares poderosos, grande capacidade de processamento e tecnologias como a Inteligência Artificial, oferecem soluções com diagnósticos bem mais precisos, se comparadas àquelas que ficam restritas às informações via satélite, por exemplo.
Quando voa sobre a lavoura, o drone capta a imagem e o software processa em detalhes o que está acontecendo no nível do solo. No cruzamento com outras fontes de dados, entretanto, é possível chegar a um nível de detalhamento capaz de identificar qual é a espécie de planta daninha presente e sua distribuição naquele talhão. Tudo isso acaba trazendo ganhos expressivos em produtividade. “O futuro está em pacotes de soluções que se complementam. Não só o químico ou as sementes de alta tecnologia, mas também o digital, para escolher o melhor momento, por exemplo, para fazer o manejo das plantas daninhas, como já fazemos com o xarvio® hoje”, afirma Almir Araújo Silva, diretor de Digital, Novos Modelos de Negócios e Excelência Comercial da BASF na América Latina.
TENDÊNCIAS NO AR
A primeira constatação é que obter imagens de satélites está ficando cada vez mais barato e esta tecnologia por si só, já é uma importante forma de sensoriamento remoto na agricultura. No início as imagens não eram interpretadas de forma muito clara. Agora, os softwares estão mais apurados e algumas iniciativas reforçam os recursos disponíveis. É o caso do lançamento do satélite brasileiro Amazônia-1, ocorrido em fevereiro de 2021, que na prática significa mais uma fonte para fazer o monitoramento.
O sócio fundador da startup TerraLabs, Roberto Alves Fernandes, afirma que as tendências do sensoriamento remoto na agricultura passam naturalmente pela maior resolução temporal e espacial dos sensores instalados nos satélites, cada vez mais presentes, eficientes e com custos cada vez menores. Esses sensores detectam faixas de luz no espectro visível e também em outras faixas de luz que o olho humano não consegue enxergar. Esta característica, associada a algoritmos de inteligência artificial, permite processar os dados das imagens, aprimorando o monitoramento da saúde da planta, a detecção de pragas e doenças, ou a falta de nutrientes na lavoura.
Outro avanço importante é a chegada das câmeras multiespectrais e hiperespectrais acopladas em drones, que trazem uma resolução espacial ainda mais apurada, se comparada com os satélites tradicionais. Uma das primeiras empresas a oferecer soluções nesta área é a agtech suíça Gamaya. O líder da empresa no Brasil, Lucas Trindade, explica que o uso das imagens hiperespectrais começaram a ser usadas há três décadas, a um custo muito elevado. Após diversas pesquisas, foi desenvolvida uma câmera portátil com tecnologia hiperspectral para uso agrícola, equipamento que vai permitir identificar problemas em cada planta, individualmente com um custo menor.
Os especialistas também apostam na integração de todas estas tecnologias ao uso de robôs, que vão carregar os sensores e percorrer as áreas produtivas das fazendas realizando o diagnóstico preciso.
ENXAMES DE DRONES
Outra realidade recente no campo tem sido o vôo dos drones em “esquadrilha”, que monitoram a lavoura controlados por um único piloto via softwares de automação.
O pesquisador da Embrapa Instrumentação, Lúcio Jorge, é um dos grandes entusiastas desta aplicação. "Hoje não é apenas um, mas um conjunto de 10 ou 20 drones sobrevoando a lavoura ao mesmo tempo”, diz ele.
Pioneira no sensoriamento com uso dos drones no Brasil, a Embrapa Instrumentação, que fica em São Carlos – SP, patenteou a tecnologia em 2004, quando os equipamentos ainda despertavam desconfiança entre os produtores, mas demonstravam grande potencial de uso.
Lúcio Jorge afirma que, a depender do avanço dessa tecnologia, num futuro próximo será possível avaliar alvos para aplicação de insumos agrícolas, distribuir tarefas e executá-las praticamente sem intervenção humana. "Os pulverizadores costais estão fadados a sumir. Serão substituídos por pequenos drones, em um caminho sem volta", afirma.
De acordo com a Embrapa, nos últimos 4 anos entre 30% e 40% dos produtores brasileiros passaram a utilizar esta ferramenta tecnológica. Nas pequenas propriedades, o acesso tem sido facilitado por meio de associações ou cooperativas. Em média, calcula-se que o custo do serviço fique entre R$ 10,00 a R$ 12,00 por hectare para os mais simples e entre R$ 70,00 a R$ 80,00 por hectare para a utilização de sensores mais sofisticados. "O sensoriamento com drones e novos satélites representam a transformação digital da agricultura, com agregação de valor, aumento da competitividade e sustentabilidade da atividade agrícola", destacou Lúcio Jorge.
Segmentos como a produção de grãos (soja e milho) e de cana-de-açúcar estão entre aqueles com maior adoção de tecnologias de sensoriamento. Segundo a Solinftec, especializada em soluções de agricultura digital, 75% dos clientes já adotam estas ferramentas no setor sucroenergético. "A agricultura de precisão já fornecia ganhos no monitoramento das plantações, mas com a instalação de sensores nas máquinas e o cruzamento com dados externos, tais como velocidades recomendadas pelo fabricante ou mesmo informações de estações meteorológicas, este conjunto passa a fazer a diferença também na parte operacional da fazenda", explica o líder de novas soluções da empresa, Felipe Yuri.
"As soluções automáticas trazem muito mais agilidade às usinas, com uma noção muito mais ampla do que realmente está acontecendo nos canaviais e maximizando retorno de investimentos e resultados”, afirma Lucas Trindade, da Gamaya.