Agricultura
Mela do Algodão: Causas, Impactos e Estratégias de Controle
Introdução
A Mela do Algodão tem se tornado uma preocupação crescente entre os produtores brasileiros, especialmente devido ao seu impacto na redução da produtividade do stand de plantas e aumento dos custos com replantio.
Causada pelo fungo Rhizoctonia solani, essa doença encontra condições ideais de desenvolvimento em regiões com alta incidência de chuvas no momento do plantio.
No Mato Grosso, por exemplo, a maior intensidade de chuvas no momento da semeadura têm potencializado a situação, resultando em atrasos no plantio e favorecendo a disseminação do patógeno.
O que é a Mela do Algodoeiro?
A Mela do Algodão é uma doença fúngica causada pelo Rhizoctonia solani Kuhn, grupo de anastomose AG4, um patógeno de solo capaz de infectar as plantas logo nas fases iniciais de desenvolvimento e apresenta difícil controle por produzir escleródios (estrutura de sobrevivência do fungo) no solo.
Esse fungo forma escleródios, estruturas de sobrevivência que permanecem no solo por longos períodos, dificultando o controle da doença. Uma vez que instalada na área permanece no solo por longos períodos. Além disso é uma doença que possui ampla diversidade de hospedeiros, sendo as gramíneas uma alternativa para quebrar o ciclo deste fungo.
O ataque inicial ocorre nos cotilédones das plântulas, provocando lesões com aspecto oleoso, seguidas de encharcamento e destruição total, levando à morte das plantas jovens.
Muitas vezes, os sintomas podem ser confundidos com outras doenças, como o tombamento, mas a Mela apresenta um padrão distinto, afetando cotilédones e tecidos próximos ao solo, o que exige um diagnóstico cuidadoso.
Sintomas
Para identificar a mela do algodoeiro na lavoura, fique atento aos sintomas iniciais: lesões, com aspecto oleoso, nas bordas dos cotilédones.
Conforme o desenvolvimento da doença, podem ser observados o encharcamento (anasarca) e a destruição total dos cotilédones, levando a plântula à morte. Um ponto de atenção é que a mela ocorre somente após a formação da folha cotiledonar, que em condições favoráveis desenvolve os sintomas e leva a posterior morte da planta. Situações em que a semente não germina do solo não podem ser consideradas como perdas causadas por mela, visto que este fungo depende da folha para iniciar a infecção e causar a morte da planta.
Atenção para não confundir os sintomas da mela do algodoeiro com outras doenças, como a causada pelo R.solani AG4, popularmente conhecida como “tombamento”. Seus sintomas, no caso, são formações de lesões no colo e nas raízes das plântulas de algodão, que podem ser confundidos com a mela.
Principais Causas e Fatores de Risco
A ocorrência e a severidade da Mela do Algodão estão diretamente relacionadas a fatores como:
- Condições climáticas: A alta umidade (acima de 80%) e temperaturas entre 25 e 30 ºC promovem o maior desenvolvimento do fungo.
- Condições de plantio: Quando o plantio é feito em momentos de alta pluviosidade, ocorrendo encharcamento do solo, as plantas ficam mais suscetíveis ao ataque do patógeno.
- Condiões de Manejo: Ausência de plantas de cobertura, como gramíneas, e sementes de baixo vigor, aumentam a incidência da doença. Solos encharcados ou com drenagem deficiente também favorecem a disseminação.
Impactos na Lavoura e na Produtividade
A Mela do Algodão compromete seriamente o estande inicial das lavouras, pois muitas plantas infectadas não sobrevivem, levando à necessidade de replantio em áreas afetadas. Isso gera custos adicionais com sementes e operações de plantio, além de atrasar o ciclo produtivo da lavoura.
Outro impacto significativo é a redução do potencial produtivo das plantas, já que aquelas que sobrevivem à infecção inicial podem apresentar desenvolvimento retardado e menor capacidade de formação de estruturas reprodutivas.
O resultado é uma perda considerável na produtividade e, consequentemente, na rentabilidade do produtor.
Fatores Climáticos e a Incidência da Doença
No Brasil, o estado do Mato Grosso se destaca como uma das principais regiões produtoras de algodão, mas também enfrenta desafios relacionados ao clima.
Conforme Enilson Nogueira, analista de mercado da Céleres Consultoria, o algodão é uma planta que se desenvolve muito bem em regiões mais secas e que as chuvas cessam mais cedo, como é o caso dos estados de Mato Grosso e Bahia, visto que é uma planta que possui sua origem em regiões semi-áridas.
No entanto, o aumento da frequência e do volume das chuvas, especialmente no início do ciclo de plantio, tem criado um ambiente ideal para o avanço da Mela do Algodão nesta região.
Em anos com maior intensidade e distribuição de chuvas no período do plantio tem-se mais relatos da ocorrência da doença na região. Nessas condições, o atraso no plantio e o encharcamento dos solos favorecem e a infecção das plântulas, dificultando o manejo eficiente.
No gráfico abaixo, conseguimos comparar a diferença gritante de chuva acumulada em Sapezal em 2024 e 2025. O aumento da precipitação tem efeitos severos para a cultura do algodão e ajustes serão necessários para equalizar a instalação à nova realidade.
Por isso, os produtores devem estar atentos ao planejamento adequado das operações agrícolas e ao monitoramento constante das condições climáticas.
Estratégias de Controle e Prevenção
Manejo Preventivo
Prevenir a entrada do fungo e limitar sua disseminação são os passos mais importantes para proteger a lavoura. Entre as principais práticas recomendadas estão:
- Uso de sementes certificadas e de alto vigor: Garantem maior resistência das plântulas ao ataque inicial do fungo.
- Tratamento de sementes com fungicidas eficazes: Produtos devidamente registrados, seletivos e com amplo espectro de controle são fundamentais no TS. Tratamentos contendo fluxapiroxade, tiofanato metílico, piraclostobina e fluopiram têm demonstrado os melhores resultados no controle inicial da doença.
- Escolha da época de plantio: Evitar períodos de chuvas intensas é essencial para minimizar o risco de infecção.
- Rotação de culturas: O plantio alternado com gramíneas pode reduzir a população de escleródios no solo.
- Monitoramento constante do solo: Análises regulares permitem detectar e corrigir condições de solo inadequadas, como drenagem insuficiente.
- Realize a limpeza frequente de máquinas e implementos agrícolas.
- Mantenha o solo com adubação equilibrada.
- Realize o manejo integrado de doenças.
- Elimine plantas hospedeiras.
Manejo Corretivo
Quando a doença já está presente na lavoura, o manejo corretivo pode ajudar a reduzir os danos. Nesse caso, é recomendada:
- Aplicação de fungicidas foliares: Realizada logo após a emergência das plântulas, pode limitar a disseminação do patógeno, produtos a base de estrobilurinas e carboxamidas são os mais recomendados.
- Adoção de boas práticas agrícolas: Evitar a movimentação de solo infectado e a contaminação de talhões vizinhos.
- Combinação de estratégias: O tratamento de sementes, combinado com a aplicação de fungicidas e a rotação de culturas, potencializa o controle da doença.
Conclusão
A Mela do Algodão é um problema crescente que exige atenção redobrada dos produtores. O manejo preventivo, baseado no uso de sementes de qualidade, tratamento eficiente e monitoramento constante, é a chave para evitar prejuízos significativos.
No entanto, quando a doença já está estabelecida, o manejo curativo, aliado a práticas agrícolas adequadas, pode limitar o impacto na produtividade. No Mato Grosso, onde o regime de chuvas tem favorecido a Mela, a adoção dessas estratégias é crucial para garantir a rentabilidade das lavouras. O sucesso no manejo depende do planejamento e da constante atualização sobre as melhores práticas para combater essa ameaça.