Agricultura

Por que a cadeia da cultura do algodão é tão complexa? | BASF

O algodão é uma cultura com alto valor agregado e que exige cuidados especiais durante todo o seu ciclo. Os compradores buscam cada vez mais qualidade, ao invés de quantidade, o que exige cada vez mais conhecimento do produtor. 

O cultivo do algodão é mais caro em comparação com outras culturas porque, além de necessitar de maquinários e técnicas diferenciadas, a cultura é bastante vulnerável às doenças e pragas. 


Por isso, como aponta o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - Algodão, Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira, o algodão é uma cultura bastante complexa e trabalhosa, que demanda muito trabalho, manejo e investimentos. 

Confira, a seguir, alguns fatores que tornam a cadeia do algodão tão complexa, principalmente se comparada às de outras culturas, em especial a soja.

Tempo de ciclo maior que o de outras culturas

O ciclo completo do algodão, que contempla desde a fase da semeadura até a colheita das fibras, acontece em um período médio de 170 a 200 dias, ou seja, cerca de seis meses.  Porém, dependendo de variáveis como época da semeadura, temperatura e quantidade de água disponível no ambiente, esse prazo pode ser ainda maior. 

 

“É uma cultura bem diferente das plantações de soja, milho, feijão, trigo e do arroz, que têm um ciclo de desenvolvimento mais curto”, explica o pesquisador. 

 

De acordo com informações da Embrapa, a colheita nas lavouras de soja, milho, trigo e arroz acontecem, mais ou menos, entre 100 a 170 dias após o período de plantio das cultivares. Esse prazo pode variar para mais ou para menos, dependendo da cultura e das condições do ambiente. 

Já o feijão, como aponta a empresa, tem um ciclo de desenvolvimento ainda menor. Segundo a Embrapa, os grãos de feijão já podem ser colhidos após três meses de sua semeadura. 

Algodão: cultura bastante vulnerável 

Segundo o pesquisador da Embrapa Algodão, outro fator que contribui para que a cultura de algodão seja complexa é a alta incidência de doenças, os ataques de pragas (insetos e ácaros), e a maior suscetibilidade a infestações das plantas daninhas. 

Por isso, as plantações de algodão requerem manejo intenso. No caso das plantas daninhas, além de elas competirem com o algodão por luz, água e nutrientes, diminuindo a sua produtividade, também podem prejudicar a qualidade da fibra.


“Caso as plantas daninhas não sejam devidamente controladas, ao iniciar a colheita o produtor vai se deparar com fibras de algodão misturadas com sementes e outros resíduos de plantas daninhas, o que não é bom porque contamina as fibras.”

 

Saiba mais: Manejo estratégico de pragas e doenças na cultura do Algodão

Plantio exige alto investimento

Ao mesmo tempo que possui um alto valor agregado, o algodão também apresenta um alto custo de investimento. Isso porque, para ser comercializado, diferente de outras culturas, a sua qualidade importa mais do que a quantidade. 

A exigência de um número maior de ações no manejo, como aplicações de herbicidas, inseticidas, fungicidas e fertilizantes, eleva o custo final de produção. Confira algumas dessas ações: 

 

  • Manejo rigoroso do solo 

O algodão é uma cultura que exige, em grande quantidade, a presença de alguns nutrientes, como o Nitrogênio (N), o Potássio (K), o Fósforo (P), o Cálcio (Ca) e o Magnésio (Mg), estes dois últimos fornecidos geralmente por meio da calagem.

Ou seja, é um produto que se desenvolve melhor em um solo rico em nutrientes e com a acidez corrigida. Sendo assim, as áreas produtoras de algodão devem ser adubadas e manejadas.

 

Saiba mais: Como o manejo influencia na qualidade de fibra do algodão?



  • Maquinários diferenciados 

Outro fator que torna a cadeia do algodão complexa são os maquinários necessários durante o ciclo de desenvolvimento da cultura. O algodoeiro exige máquinas diferentes, em especial as colhedoras. 


A colheita do algodão é uma das fases mais importantes do ciclo, pois é o momento em que podem haver as maiores perdas da safra. Assim, é importante utilizar um sistema delicado, que consiga manter a qualidade das fibras. 

Hoje, o sistema de colheita Picker, que colhe apenas o algodão em caroço dos capulhos abertos, é o mais utilizado pelos produtores da cultura. 

 

“Além de colhedoras específicas, as lavouras de algodão necessitam de aplicações de defensivos, de reguladores de crescimento, de promotores de abertura de maçãs e, às vezes, de adubos foliares. Por isso a alta demanda por pulverizadores, sobretudo os autopropelidos, para os devidos manejos e proteção da cultura”, completa o pesquisador.
 

  • Monitoramento constante da lavoura 

Diante de sua alta vulnerabilidade às doenças e pragas, para que a cultura do algodão alcance os resultados esperados pelo produtor ao fim de uma safra, é necessário que seja feito um monitoramento constante nas lavouras, tanto para identificar a presença de patógenos e pragas, quanto para verificar o correto desenvolvimento dos algodoeiros. 

 

Ao mesmo tempo que o produtor deve fornecer as condições ideais para a planta de algodão se desenvolver bem, ele também precisa regular o seu desenvolvimento. Afinal, sem o controle do crescimento por meio de fitorreguladores, por exemplo, o algodão pode abortar estruturas reprodutivas e não produzir adequadamente.



  • Mão de obra qualificada 

Para garantir que a operação dos maquinários e o monitoramento da lavoura aconteça de maneira correta, os produtores de algodão precisam contar com profissionais qualificados e treinados, seja para operar máquinas, seja para conseguir identificar doenças e pragas, e realizar os seus controles, se necessário. 

 

Por isso, não é qualquer agricultor que trabalha com algodão. “Tem que ser uma pessoa muito bem capacitada, com uma equipe técnica bem treinada. Isso também é um diferencial em relação a outras culturas. Os altos investimentos em máquinas e insumos (sementes, fertilizantes e defensivos), fazem com que os custos de produção do algodão (média de 3.200 dólares por hectare), sejam muito maiores do que os de outras culturas anuais”, pontua Alexandre. 

Comercialização do algodão requer um produto de qualidade

Hoje o Brasil está entre os cinco países que mais produzem e exportam algodão. Segundo dados dos relatórios da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), somente na safra de 2021/2022 estima-se uma safra com 6.845 toneladas do algodão, frente às 5.798 toneladas na safra anterior. 

 

Entre as regiões produtoras, um destaque para Mato Grosso, que é o maior produtor da cultura. Desse total, mais de 90% do produto é destinado à exportação, em especial para os países do Sudeste asiático, região em que estão localizadas as maiores indústrias têxteis do mundo.  

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