Agricultura
Algodão: Como o bicudo devastou a cultura em São Paulo e no Paraná | BASF
O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis), um dos maiores vilões da cultura pelo alto poder de destruição, foi visto pela primeira vez no Brasil em fevereiro de 1983. Os primeiros focos surgiram próximos ao Aeroporto de Viracopos, na região da cidade de Campinas, no interior de São Paulo.
Como não há uma confirmação definitiva da origem do inseto, essa localização torna mais aceitável a tese de que a praga tenha vindo do sudeste dos Estados Unidos, e chegado ao Brasil por avião.
Até aquele período, a cultura era considerada o “ouro branco” do país, que estava entre os maiores produtores e exportadores, com destaque para a Região Nordeste. Com a disseminação do bicudo pelo território nacional, a atividade sofreu um dano enorme, com uma redução de área plantada acima de 60%, dali até meados da década seguinte, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa). Cerca de 800 mil pessoas acabaram ficando desempregadas devido àquela situação desesperadora.
São Paulo havia se tornado a principal referência da produção brasileira de algodão na década de 1930, após passar por uma crise na cafeicultura. Nos anos 1960, o estado do Paraná também ganhou relevância na cultura, principalmente com grupos de pequenos produtores.
De acordo com informações do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt), até o início dos anos 1980, a cotonicultura já havia enfrentado diversos surtos populacionais de pragas importantes, como a lagartas, ácaros, pulgões e tripes.
Apesar de significativas, as quedas de rendimento causadas por esses insetos não se comparavam ao que viria a ocorrer com a entrada do bicudo na cotonicultura nacional. Conforme o IMAmt, quatro meses após o bicudo ter sido encontrado em São Paulo, apareceu também na Paraíba e em Pernambuco.
Tanto nesses estados como no Paraná, não era viável uma ação mais intensa de controle químico porque o custo de controle seria muito alto para o poder aquisitivo dos produtores naquele período.
O aumento no custo de produção poderia inviabilizar a atividade. Outras possibilidades de manejo também não foram eficientes a ponto de conter o avanço da praga, ainda favorecida pelas condições ambientais.
A situação ficou mais complicada devido ao cenário econômico altamente desfavorável para a produção de algodão na década de 1980, inclusive com estímulo governamental para importação de pluma de outros países produtores.
Na região Centro-Sul, já se tornava uma tendência o uso de novas tecnologias, mas ainda assim não foi suficiente para concorrer com a fibra ofertada no mercado global a preços mais acessíveis e outras culturas que ganhavam espaço, como milho, soja, pastagem e cana-de-açúcar.
Diante de tudo isso, a expansão do bicudo poderia ter acabado com a cotonicultura brasileira, pois as tradicionais regiões produtoras daquele período foram reduzidas ao extremo.
A atividade só voltou a ganhar fôlego no início dos anos 1990, quando passou a ser cultivada no Cerrado, favorecida pelo avanço do sistema empresarial de gestão e da adaptabilidade da cultura ao solo e ao clima. Tanto que Mato Grosso viria a se tornar o maior produtor nacional de algodão.