Agricultura

Herbicidas pré emergentes na cultura do algodão: da dessecação à semeadura | BASF

Por ter a fibra como produto, é de extrema importância que as plantas daninhas sejam controladas de maneira correta

Leticia Tambolin - ESALQ-USP

A cultura do algodão possui baixa capacidade competitiva em relação às plantas daninhas e, por isso, o controle destas deve ser realizado corretamente desde antes da semeadura.

A cultura do algodoeiro (Gossypium hirsutum) é de grande importância para a economia brasileira. A fibra de algodão é uma das principais commodities do país, e o avanço dessa cultura no cerrado possibilitou que o país se tornasse exportador novamente.

Por ter a fibra como produto, é de extrema importância que as plantas daninhas sejam controladas de maneira correta. Muitas plantas daninhas possuem estruturas de propagação que podem “grudar” nas fibras, o que diminui sua qualidade. Um exemplo clássico disso é o picão preto (Bidens spp.) e o capim carrapicho (Cenchrus echinatus): suas sementes possuem um tipo de “espinho” que ajudam em sua dispersão, pois são capazes de grudar em pelo de animais.

Mas, a mato competição inicial é o principal motivo pelo qual se deve fazer o controle correto das plantas daninhas nessa cultura: o algodoeiro possui metabolismo fotossintético C3 e, portanto, possui alta taxa de fotorrespiração e baixa taxa de fotossíntese líquida, resultando em crescimento inicial lento até os primeiros 20 dias após a germinação. Além disso, o período crítico de interferência da cultura é de 15 até 60 dias! Em outras palavras: a capacidade competitiva da cultura em relação às plantas daninhas é baixa.

Por esse motivo, em relação ao manejo de plantas daninhas, o mais importante é que o produtor dê a dianteira competitiva para a cultura. Primeiramente, esse controle deve começar na dessecação para posterior semeadura. Uma dessecação bem feita eliminará as plantas daninhas da área, e se o dessecante for aplicado em associação com algum herbicida pré-emergente, resultará em maior espectro de controle e maior residual no solo, “segurando” as sementes que ainda não emergiram.

As moléculas mais utilizadas para dessecação são paraquat, 2,4-D, glyphosate (no caso do algodão não transgênico), saflufenacil. É recomendável que a dessecação seja realizada de duas a três semanas antes da semeadura do algodoeiro possibilitando tempo suficiente para ação dos herbicidas e impedindo a interferência das plantas daninhas na cultura a ser implantada.

Uma outra aplicação pré-semeadura que deve ser feita é a de pré plantio incorporado (PPI). Algumas moléculas devem ser incorporadas por que os herbicidas registrados para uso em pré-plantio incorporado, são aqueles que precisam ser incorporados preferencialmente, com uma grade na profundidade média de 5 a 10 cm iniciais de solo, pois são sensíveis a fotodecomposição ou volatilização.

Dessa forma, a incorporação ao solo reduz as perdas desses compostos, permitindo que os mesmos sejam utilizados em doses menores do que aquelas utilizadas com esses mesmos produtos, quando aplicados em pré-emergência. A aplicação pode ser realizada em até seis semanas antes ou até mesmo na véspera da semeadura. Existem apenas dois produtos registrados para a cultura do algodão nessas condições de manejo: o trifluralin e o pendimethalin.

Já após a semeadura, mas antecedendo a emergência da cultura e das plantas daninhas, utilizam-se os herbicidas pré-emergentes (PRE), os quais visam controlar as plantas daninhas desde o início da instalação da cultura do algodão, assim evitando a competição. Portanto, são conhecidos pelos seus efeitos residuais, permitindo que o algodão possa se estabelecer livre de plantas daninhas. O efeito residual dos herbicidas de solo depende das características químicas e físicas do solo, da dose utilizada e das características de cada herbicida. Além disso, é fundamental o conhecimento do histórico de infestação para a caracterização da comunidade infestante.

Outro fator que deve ser levado em consideração é a seletividade do herbicida às cultivares. Esta pode estar ligada a três fatores principais: metabolismo da molécula para cultivar, ajuste de dose e posicionamento no solo. Para se obter um bom resultado é de extrema importância a ocorrência de chuva ou irrigação, para que se tenha a necessária umidade no solo. A escolha da dose deve ser baseada no teor de argila do solo e do teor matéria orgânica, os quais determinarão a facilidade de posicionamento do herbicida no perfil, o quanto desse produto ficará na solução do solo e o quanto ficará adsorvido a essas partículas. Os herbicidas mais comumente usados são diuron, flumyzin, s-metalochlor e clomazone.

No caso do s-metalochlor, além de poder ser aplicado em pré-emergência da cultura, pode ser aplicado sequencialmente em área total, com a cultura em pós emergência inicial (cultura com 1 a 2 folhas verdadeiras), com as plantas infestantes em pré emergência, resultando em um tratamento complementar. Já o clomazone só pode ser aplicado se as sementes forem tratadas com o inseticida fosforado disulfoton ou com a aplicação do mesmo no solo (sulco de plantio) que funciona como “safener” (protetor), conferindo seletividade ao clomazone para a cultura do algodão.

Por fim, para garantir o sucesso da aplicação dos herbicidas pré emergentes é necessário considerar os seguintes pontos: a flora infestante, o clima da região, o tipo de solo e as características físico-químicas dos herbicidas a serem utilizados, além do sistema de produção, se o preparo de solo será convencional ou se será utilizado o sistema plantio direto (muitos herbicidas podem ficar adsorvidos à cobertura vegetal sobre o solo), visto que tais fatores irão interagir entre si e influenciar no resultado final do controle das plantas daninhas e na produtividade da cultura.

Fonte Texto:

• CHRISTOFFOLETI, P. J.; BRUNHARO, C. A. C. G.; DE MELO, M. S. C.; NICOLAI, M.; ROMANO, M. Manejo de Plantas Daninhas. In: BORÉM, Aluízio; FREIRE, Eleusio C. (Ed.). Algodão do plantio à colheita. Viçosa: Ufv, 2014. Cap. 10. p. 199-201.

EMBRAPA. Manejo de Plantas Daninhas na Cultura do Algodoeiro.

SANTOS, Gizelly et al. Seletividade toponômica de herbicidas para a cultura do algodão. Revista Brasileira de Herbicidas, v. 10, n. 2, p. 95-102, 2011.

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