Agricultura

Como anda a ocorrência de Migdolus nos canaviais paulistas? Saiba também como controlá-lo! | BASF

Algumas pragas são mais importantes em anos mais secos, como é o caso do besouro Migdolus fryanus que é capaz de causar danos consideráveis na cultura da cana-de-açúcar.

Gustavo Alves - ESALQ/USP

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Segundo dados da UNICA (União da Industria de cana-de-açúcar), a moagem de cana-de-açúcar foi de 641 milhões de toneladas na safra 17/18.

 

Este número é ligeiramente inferior a safra 16/17 que foi de 651 milhões de toneladas na safra 17/18. Este número é ligeiramente inferior a safra 16/17 que foi de 651 milhões de toneladas e segundo estimativas do setor, ao redor de 10% maior do que a safra 18/19. Esses números mostram que o setor vem sofrendo bastante com a falta de investimentos e com fatores abióticos e bióticos. Dentre os fatores bióticos, os que mais limitam a produção na plantação de cana-de-açúcar são as pragas de solo, de rizoma e parte aérea. Essas pragas podem causar perdas agrícolas severas da ordem de 10-30 ton/corte/ano e perdas na qualidade da matéria prima, reduzindo também a produção de açúcar e etanol.

Algumas pragas são mais importantes em anos mais secos, como é o caso do besouro Migdolus fryanus que é capaz de causar danos consideráveis. Esse besouro mede de 2 a 3 cm, os machos são pretos e as fêmeas marrom claro, o que permite uma fácil diferenciação entre eles. Essa espécie é originária da América do Sul e ataca também diversas outras culturas como eucalipto, amoreira, mandioca, Cultivo de uva, Cultura do algodão, Cultura do feijão, Cultura do café, etc.

 

Nos canaviais os besouros vivem a maior parte do ano no solo, e saem somente de outubro a março para revoadas de acasalamento. As fêmeas não voam, apenas emergem do solo no período da manhã e ficam aguardando o macho, que saem estimulados pelo feromônio sexual, para cópula. Após isso, as fêmeas voltam para o solo e colocam os ovos. Destes ovos saem larvas que são de coloração branco leitosa e chegam a medir até 4 cm.

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Em função da alimentação, as larvas destroem o sistema radicular, perfurando-o em todos os sentidos. Em ataques severos, as touceiras apresentam o aspecto de cana afetadas por seca. Embora o ataque seja em reboleiras a perda provocada na cultura da cana-de-açúcar é estimada entre 25 a 30 ton./ha., podendo haver destruição completa em alguns casos e necessidade de reforma antecipada do canavial.

 

Levantamento realizado no final dos anos 80 estimou que a área atacada pela praga no estado de São Paulo fosse de pouco mais de 5000 ha., novas estimativas em 1992 apontaram cerca de 50.000 ha. saltando já para 100.000 ha. em 1995. Atualmente estima-se que a área atacada pela praga nos estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná seja de mais de 280.000 ha., com prejuízo na casa dos US$ 250 milhões.

 

A maior dificuldade para controle dessa praga do plantio de cana está relacionada ao seu hábito subterrâneo. Embora metade dos insetos esteja a cerca de um metro de profundidade, eles podem se aprofundar até 4 metros abaixo da superfície, longe de quase todas formas de controle.

 

O controle químico é realizado em três estratégias diferentes, barreira química, sulco e cortador de soqueiras, no primeiro, antes do plantio é feita uma subsolagem com equipamento regulado para 50 a 60 cm de profundidade, atrás de cada sapata é instalado um bico de leque que faz aplicação de inseticida em alto volume (800 a 1000 l/ha) a fim de criar uma camada de produto que irá atingir insetos que estejam em profundidade. O segundo tipo é feito conjuntamente ao plantio aplicando-se no sulco todo o inseticida numa vazão média de 250 l/há; já a terceira abordagem visa atingir insetos após a colheita na cana soca, o cortador de soqueira é adaptado para injetar o pesticida a cerca de 20 cm de profundidade numa vazão de 250 a 500 l/ha.

 

O fato de ser uma praga de solo abre algumas possibilidades alternativas de controle, como o controle biológico. Embora ainda não existam produtos comerciais, o uso de nematóides entomopatogênicos vem sendo estudado.

 

O controle cultural da praga é um dos mais eficientes, porém com o inconveniente de poder ser aplicado somente durante a reforma do canavial. A aração profunda elimina larvas e pupas por efeito mecânico, aquelas que sobrevivem e os adultos ficam expostos ao dessecamento e ação de predadores (principalmente pássaros). Se possível recomenda-se que seja feito de março a setembro que é o período no qual maior parte das larvas estão próximas da superfície e, portanto, mais fáceis de serem mortas.

 

O macho da espécie responde muito bem ao efeito de feromônios sexuais. Pensando nisso foi desenvolvido sua versão sintética que pode ser usada como controle comportamental de Migdolus, neste caso, recomenda-se a utilização de armadilhas com a pastilha do feromônio sexual, na taxa de 1 a 4 por hectare de acordo com a infestação. A armadilha possui um recipiente que fica enterrado e a pastilha (com o feromônio sexual sintético) fica ao nível do solo. Ao identificarem o feromônio sexual, besouros machos surgem de todas as direções e caem na armadilha ficando presos. As armadilhas precisam ser vistoriadas diariamente pois enchem rapidamente, sendo então os adultos retirados e mortos.

 

Embora a praga possua características que a favorecem, por outro lado é uma espécie que apresenta baixa dispersão e ciclo de desenvolvimento longo, essas são características que nos ajudam no seu controle. Estratégias como manejo regional sincronizado, vazio sanitário ou rotação e ainda o uso conjunto de todas as medidas de controle disponíveis, trazem a possibilidade de uma redução considerável ou até mesmo sua erradicação em nível local permitindo assim ao agricultor o alcance de maiores produtividades na cultura da cana-de-açúcar.

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