Agricultura

Há vida nos canaviais após a seca e a geada | BASF

Efeitos da crise hídrica e do rigoroso inverno devem ser sentidos nas lavouras de cana nas próximas safras, mas a ajuda da tecnologia pode ajudar na recuperação do setor

Cana na geada

A recente retomada de chuvas nas regiões produtoras de cana-de-açúcar trouxe novo ânimo para o setor, bastante prejudicado pela seca e por geadas ocorridas na metade do ano, principalmente no mês de julho. Além do impacto sobre a produção dos canaviais, os efeitos climáticos ainda derrubaram a qualidade da cana que teve de ser colhida precocemente.

Na primeira metade de agosto, as unidades produtoras da região Centro-Sul haviam processado 44,6 milhões de toneladas, volume 4,2% a menos do que foi registrado no mesmo período da safra 2020/21 (quase 46,6 milhões de toneladas), segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Em termos de produtividade, a concentração de açúcares totais recuperáveis (ATR) por tonelada de cana foi de 150,3 kg, o que representa redução de 1,67% frente aos 152,9 kg obtidos em igual período da safra anterior.

 

Para se ter ideia de como a seca e as geadas foram significativas, a queda na produtividade no Centro-Sul foi de 12,8%, passando de 86,1 toneladas por hectare no período anterior para 75,1 toneladas por hectares na safra 2021/22. A primeira e a segunda geadas chegaram a afetar 1 milhão de hectares, ou seja, quase 12% da área que estava disponível para colheita.

 

Essa redução já era esperada, segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica, pois a necessidade de alteração na dinâmica de colheita levou à retirada de muita cana afetada pela geada, afetando o rendimento das lavouras.

Embora ninguém deseje ficar contabilizando prejuízos, é fundamental que a cadeia produtiva de cana-de-açúcar conheça em detalhes o cenário posterior aos desafios hídricos e das geadas nos canaviais, até para traçar uma estratégia de recuperação. Como disse Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), à revista Globo Rural, o atraso no processo vegetativo dos canaviais queimados pela geada pode chegar a cinco meses.

Mas os reflexos dessa situação podem ir além, persistindo por três anos ou mais. Rodrigues, que também é produtor rural, observa que, para evitar problemas na oferta de etanol e açúcar, o setor precisaria de algum programa específico de financiamento, considerando-se os custos de plantio do canavial. De acordo com Padua, da Unica, a brota na área já colhida passará por uma poda e voltará a brotar, mas o processo vegetativo ocorrerá com atraso em relação ao que se esperava.

Exatamente por isso será necessário um planejamento mais preciso para a colheita no período 2022/23, evitando que ela aconteça antes da hora, causando perdas de produtividade, ou de forma tardia, o que encarecerá o manejo. 

Auxílio da tecnologia

 

Ainda que os agricultores não tenham controle sobre os efeitos climáticos, variáveis com grande impacto – positivo ou não – sobre os resultados das lavouras, cada vez mais as soluções tecnológicas contribuem para que a cadeia produtiva como um todo esteja mais bem preparada para os desafios do clima, e até para a necessidade de recuperação. É o caso do melhoramento genético da cana-de-açúcar, com o desenvolvimento de variedades mais resistentes a situações de déficit hídrico, a exemplo das pesquisas realizadas pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).

A utilização de sensoriamento remoto para monitorar canaviais, e avaliar a condição hídrica das plantas, é outro exemplo da tecnologia aplicada de forma preventiva nos canaviais. No segundo semestre do ano passado, o Instituto Agronômico (IAC) iniciou um estudo com veículos aéreos não tripulados (VANTs), equipados com câmeras termográfica e multiespectral, na cidade de Ribeirão Preto. Os equipamentos coletaram dados que permitiram comparar a temperatura entre áreas irrigadas, variando de 22°C a 37°C, e sem irrigação, acima de 37°C.

As imagens também possibilitaram aos cientistas interpretar se as plantas estavam em uma situação de estresse hídrico e a gravidade dessa condição. Por falar em recursos hídricos, a cana-de-açúcar representa 9,1% de toda a área agrícola irrigada do País, que soma 8,2 milhões de hectares, segundo o Atlas Irrigação, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).  

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