Agricultura
Bicudo da cana-de-açúcar e a importância do seu controle na soqueira | BASF
Você sabia que optar por não controlar um inseto na soqueira diminui drasticamente a produção e até mesmo a longevidade do canavial?
Ana Paiva - ESALQ | USP
O bicudo-da-cana-de-açúcar, Sphenophorus levis, é uma praga primária da cultura da cana-de-açúcar presente, principalmente, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná. Pertencente à ordem Coleoptera (besouros), o adulto possui coloração marrom escura com manchas pretas. Uma característica marcante dessa espécie é se fingir de morto quando manuseado (tanatose). Os ovos são colocados na base da brotação, abaixo do nível do solo. A fase de desenvolvimento responsável pelos danos é a larva, de coloração branca, se tornando amarelada com o passar do tempo, com cápsula cefálica castanho-avermelhada.
Esses danos são em função das galerias formadas pelas larvas, que danificam o tecido do rizoma, o colmo das plantas e os perfilhos da cana. Um dos sintomas é a clorose das folhas e o secamento que ocorre de fora para dentro. O ataque pode ser tanto tardio quanto precoce e levar à morte da planta. Além disso, como dano indireto, devido aos espaços ocasionados pelas falhas do perfilho, aumenta-se a proliferação de plantas invasoras.
É um inseto que possui de 4 a 5 gerações no ano e tem baixa capacidade de dispersão. O que nos faz levantar a questão: se o bicudo não consegue se dispersar de maneira eficaz, como é que atingiu o status de praga primária e vem causando tanto prejuízo?
Nos últimos anos, o sistema de colheita cruada cana vem ganhando cada vez mais espaço gerando explosões populacionais, visto que o controle cultural feito pelo fogo era de extrema importância na redução da população. Além disso, a palha serve de abrigo para a praga.
O bicudo da cana-de-açúcar é de difícil controle, já que as larvas estão, geralmente, protegidas e podem continuar no canavial após o corte da soqueira. Também pode chegar a áreas ainda não infestadas por meio de mudas oriundas de viveiros onde não ocorre o monitoramento ou, até mesmo, no transporte das mesmas, sendo essa a principal forma de distribuição. Levando em consideração essas características, é importante destacar que somente uma tática de controle não é suficiente.
O monitoramento pode ser feito pela observação dos sintomas ou da abertura de trincheiras. E por último, o monitoramento de adultos pode ser realizado pela instalação de iscas, feitas com um tolete de cana-de-açúcar com aproximadamente 30 cm. Essa opção também era utilizada no controle quando essas iscas eram embebidas em uma solução de melaço e inseticida, atraindo a praga e matando-a, porém deixou de ser utilizada por ser um método oneroso.
Durante a renovação do canavial, é importante a eliminação total das soqueiras e preparo do solo para exposição e controle dos insetos, em seus diferentes estágios. É de extrema importância que essa etapa seja realizada em períodos de seca. Lembre-se sempre que, caso a infestação seja maior que 30% de toletes atacados, a renovação é medida obrigatória para evitar piores problemas. Apesar de ser uma medida eficaz, os bons resultados atingidos pelo corte da soqueira restringem-se ao primeiro corte, além do alto custo envolvido, tornando-se uma alternativa indesejada pelos produtores.
Se os níveis de infestação forem menores que 30% após a colheita, é importante a aplicação de inseticidas utilizando o aplicador de inseticidas na soqueira, que permite uma maior eficiência devido ao aumento da área de contato entre a praga e a calda. O controle químico também pode ser utilizado sem o corte da soqueira com aplicação sobre o sulco, via drench. No entanto, pesquisadores de diferentes centros concordam que as aplicações com corte são as mais adequadas.
Caso não controlada na soqueira, a pressão da população cresce significativamente, podendo causar perdas irreparáveis. Não deixe a população do bicudo da cana-de-açucar atrapalhar a produção do seu canavial. Faça amostragens e um controle eficiente e consciente!
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