Agricultura

Manejo integrado para controle de grama-seda em cana-de-açúcar

Atualmente, a cana-de-açúcar é considerada uma das grandes alternativas para o setor de biocombustíveis devido ao grande potencial na produção de etanol e aos respectivos subprodutos.

Marcelo Malardo - ESALQ/USP

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A maior conscientização das pessoas em relação ao meio ambiente juntamente com o esgotamento das jazidas petrolíferas e ao elevado preço do petróleo, fazem com que a agroindústria sucroalcooleira se mostre uma alternativa de grande importância, visto que, o álcool é um combustível ecologicamente correto, não afeta a camada de ozônio e provém de uma fonte renovável. Além da produção de etanol e açúcar, as usinas estão gerando energia elétrica, auxiliando na redução de custos e contribuindo para a sustentabilidade.

O Brasil é o maior produtor na cultura de cana-de-açúcar do mundo, tornando-se um país promissor para a exportação dessa commodity, devido ao aumento da demanda mundial por combustíveis oriundos de fontes renováveis e por ter grandes áreas cultivadas com condições edafoclimáticas favoráveis a cultura.

A produção de cana-de-açúcar estimada para a safra de 2018/19 é de 635 milhões de toneladas, cerca de 0,4% maior que a safra anterior. A produção de açúcar deverá atingir 34 milhões de toneladas, com diminuição de 9,6% em relação a safra passada e o etanol atingirá 30 bilhões de litros, incremento de 11,6% (CONAB, 2018).

Visando sempre manter altas produtividades, aliado a sustentabilidade, a condução do canavial demanda alguns cuidados. Dentre eles, citamos o manejo de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar, que por sua vez, é de grande importância, visto que, quando estabelecidas em canaviais interferem sobre seu desenvolvimento, podendo até mesmo reduzir a produtividade agrícola, principalmente devido à elevada capacidade de competição pelos recursos do meio (nutrientes, água e luz) e produção de substâncias tóxicas que dificultam a formação dos pelos absorventes nas raízes da cultura, chamadas de aleloquímicos ou substâncias alelopáticas.

Na plantação de cana-de-açúcar, são inúmeras espécies daninhas que se estabelecem, mas, geralmente, Cynodon dactylon (grama-seda), Cyperus rotundus (tiririca), Ipomoea spp (cordas-de-viola), Merremia spp (cipós), Mucuna aterrima (mucuna-preta), Ricinus communis (mamona), Panicum maximum (capim-colonião), Brachiaria decumbens (capim-braquiária), Brachiaria plantaginea (capim-marmelada), Digitaria horizontalis (capim-colchão) e Rottboelia cochinchinensis (capim-camalote) são as mais frequentes.

Quanto maior o tempo de convivência das infestantes com a cultura, maior será o impacto causado, particularmente se a convivência ocorrer nos primeiros 90 dias do ciclo do canavial. Na literatura, são relatados prejuízos de até 85% sobre as soqueiras e até 100% sobre cana-planta.

Dentre as plantas daninhas citadas acima, a grama-seda é a que mais se destaca após o fim da queimada da palha de cana-de-açúcar, em função de sua alta complexidade e competitividade. Por conta disso, o manejo correto desta espécie será abordado de forma mais detalhada neste texto.

A grama-seda é uma gramínea perene de hábito prostado, que apresenta colmos levemente achatados e amplamente ramificados, associados a estolões e caule rizomatoso, com capacidade de enraizar e formar partes aéreas. É umas das plantas daninhas mais espalhadas no mundo e considerada de difícil controle. Pode produzir rizomas com até cinco metros de comprimento em 80 dias, que se concentram na camada arável do solo (0 – 20 cm), mas podem chegar a quase um metro de profundidade. É hospedeiro de nematoides dos gêneros Meloidogyne e Pratylenchus, de fungos e vírus.

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Figura 1. Hábito de crescimento da planta daninha grama-seda.

Fonte - Agrobase, 2018.

Caso a espécie já se encontre no seu canavial, é vital entrar rapidamente com um herbicida para cana capaz de controlá-la o mais rapidamente possível. A literatura frisa que a única forma de controlar essa planta daninha de forma eficiente é através da reforma do canavial, visto que é uma planta que apresenta propagação vegetativa, portanto, há a necessidade de se atingir seus rizomas e estolões para um controle eficiente.

Desta forma, após a última colheita, recomenda-se aplicar os herbicidas glifosato e imazapyr, com a cultura e a grama-seda já brotados e, após 20 a 25 dias da aplicação, realizar o processo de gradeamento da área, visando o fracionamento dos rizomas da planta, aumentando a exposição ao produto, melhorando a absorção e translocação.

Recomenda-se também a realização de uma 2ª intervenção, antes do plantio, com outros herbicidas, como por exemplo, clomazone, a fim de potencializar o controle e proporcionar efeito residual para a daninha e seletividade para a cana-de-açúcar.

Vale ressaltar que o herbicida imazapyr não é seletivo para a cana-de-açúcar, portanto, é obrigatório atentar-se ao tempo entre a aplicação do produto e o plantio (100 a 120 dias), a realização da gradagem e mínimo de 100 mm de precipitação nesse período.



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