Agricultura

O milho ganha força no Brasil

O Brasil deve produzir mais milho na safra, mas a tendência para os preços ainda vai depender da influência do clima e da taxa de câmbio. É o que apontam as principais consultorias de mercado, que já começaram a revisar as projeções em função dos efeitos da falta de chuva na safra de milho de verão.
 

A disparada dos preços do milho nos últimos anos vem despertando maior interesse pela cultura no Brasil. Antes de o país se tornar um importante exportador do cereal, plantar milho era sempre sinônimo de incerteza. Em uma safra a rentabilidade era alta, em outra os produtores chegavam a abandonar o produto a céu aberto na região Centro-Oeste, quando transportar o milho até os estados com maior consumo era algo economicamente inviável. Mas a conquista do mercado externo mudou totalmente este cenário. 

Esse interesse maior pela cultura se expressa agora no campo. Na safra 2021-22, o Brasil deve totalizar 20,9 milhões de hectares plantados com milho, alta de 5,1% em relação à safra anterior, de acordo com o levantamento divulgado em dezembro de 2021 pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

 

Este avanço de área cultivada, juntamente com a expectativa de melhores produtividades na segunda safra, deve elevar a produção nacional para 117,2 milhões de toneladas, alta 34,6% em relação à safra 2020-21. 

O resultado otimista, porém, só se confirmará se não houver nenhuma surpresa negativa decorrente do regime de chuvas na região Centro Oeste durante a chamada safrinha. Isso porque a primeira safra, como é conhecida a safra de verão, já sofreu com a falta de chuvas e, com isso, houve quebras sobretudos nas lavouras do Sul do país.

Problemas no Sul

A expectativa para a primeira safra, plantada principalmente nos estados da região Sul do Brasil, era de uma colheita próxima a 30 milhões de toneladas. O problema é que algumas áreas do Rio Grande do Sul, por exemplo, chegaram a ficar quase um mês sem chuva. Os períodos secos foram frequentes e as chuvas, quando vieram, foram mal distribuídas e em quantidade insuficiente para o milho, que ao contrário da soja, é mais sensível à falta de umidade. 
 

"Foi o efeito do La Niña, fenômeno climático que costuma provocar redução das chuvas no sul do Brasil", explica o analista da Céleres consultoria, Enilson Nogueira. Ele calcula que o Rio Grande do Sul registre queda de pelo menos 20% na produtividade do milho em função dos longos períodos de estiagem.
 

O analista Vlamir Brandalizze concorda com esta avaliação e faz um alerta: "Com os problemas climáticos que tivemos no Sul, a safra de verão 2021-22 poderá até ficar abaixo da registrada no ano anterior". Segundo a Conab, a safra de verão no ciclo 2020-21 foi de 24,7 milhões de toneladas.  

Brandalizze afirma que algumas das lavouras de milho mais prejudicada pela seca foram direcionadas para silagem. "Nestas áreas o produtor optou por plantar soja, porque ainda havia tempo hábil para o plantio desta outra cultura'', diz. 
 

Algumas consultorias já anunciaram novos números com base nas perdas causadas pelo La Niña. A Safras & Mercado baixou de 25,7 milhões de toneladas para 22,5 milhões de toneladas a estimativa para a primeira safra de milho. O analista Paulo Molinari explicou que a revisão para baixo leva em conta especialmente os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “A safra gaúcha deverá ficar em 2,912 milhões de toneladas, 22,5% abaixo das 3,762 milhões de toneladas registradas na safra verão 2020-21”, disse.

 

No dia 21 de dezembro a AgResource Brasil, filial da empresa norte-americana AgResource Company, também divulgou estimativa reduzindo a projeção de produção de milho primeira safra, que saiu de 28,15 milhões de toneladas em novembro para 23,75 milhões de toneladas, queda de 15,6%. De acordo com o diretor Raphael Mandarino, o corte se deve não apenas aos problemas nos estados do Sul mas também às chuvas abaixo da média em Mato Grosso do Sul. "Em Maringá, no Paraná, lavouras de milho com 80 a 90 dias após o plantio chegaram a ter 50 dias sem chuva e temperaturas muito elevadas, um cenário preocupante”, destacou.

Reforço no Nordeste e no Centro Oeste

Porém, quando se avalia a produção total de milho no Brasil, que envolve também a terceira safra, aquela plantada na região nordestina conhecida como Sealba (sigla que representa áreas de plantio nos Estados de Sergipe, Alagoas e Bahia), as previsões seguem razoavelmente otimistas.
 

"A soja foi plantada na janela ideal e tudo indica que a segunda safra de milho, a maior do Brasil, também será beneficiada por este plantio na época certa, o que já ajuda a garantir boas produtividades", avalia Nogueira, da Céleres. A consultoria prevê a produção de 92 milhões de toneladas na safra de inverno, considerando a produtividade média dos últimos anos. Com isso, a safra total estimada para o Brasil ficaria próxima de 120 milhões de toneladas. 
 

Alguns meteorologistas não descartam, no entanto, efeitos pontuais do La Niña também em 2022, o que reduziria o potencial produtivo. Marco Antonio dos Santos, da Rural Clima, por exemplo, acredita que caso falte chuva entre abril e maio, o potencial da segunda safra já cairia para 85 milhões de toneladas. Mas ele esclarece que os riscos são limitados e possivelmente podem ser compensados pelo aumento na área plantada. "Tudo indica que teremos um cenário muito diferente de 2021 quando houve uma quebra significativa causada pela seca e pela geada nas regiões produtoras", afirma.

De qualquer forma, quem já está contabilizando as perdas da safra de verão também já reduz a estimativa da safra total. A Safras & Mercado reduziu para 116 milhões de toneladas e a AgResource agora prevê 110,7 milhões de toneladas para a produção total de milho no Brasil na safra 2021-22.

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