Agricultura
Mercado do arroz hoje ainda é favorável ao produtor brasileiro | BASF
O cenário do mercado do arroz hoje ainda é favorável ao produtor brasileiro, saiba o que esperar dos preços e safras segundo analistas e especialistas
Após os patamares recordes nos preços do arroz registrados durante a pandemia, produtores vivem um ano de expectativa. Alguns fatores positivos para o setor, como o consumo interno aquecido e a taxa de câmbio favorável, ainda permanecem em 2021.
Por outro lado, analistas acreditam que vendas externas em menor volume este ano, além da recente tendência de queda para o dólar, podem influenciar negativamente as cotações.
Para projetar o futuro do mercado do arroz é preciso entender primeiro o efeito da pandemia sobre o setor. No início de março de 2020 o valor pago ao produtor estava em R$ 49/saca. Em setembro o preço médio subiu para R$ 106/saca, um aumento de 116%.
O analista da consultoria Safras & Mercado, Gabriel Viana, explica que uma conjunção de fatores provocou este fenômeno. "O principal deles foi a corrida dos consumidores aos supermercados no início da pandemia, famílias fizeram estoques de alimentos, fazendo a demanda interna por arroz explodir de uma hora para outra”, ressalta.
Em segundo lugar, ele lembra que os lockdowns e a preocupação com o abastecimento em países produtores como Índia e Tailândia, provocaram aumento na demanda mundial pelo grão.
"O governo tailandês, por exemplo, limitou as cotas de exportação, para garantir alimentos no mercado interno”, Gabriel Viana
O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, avalia que o momento segue positivo para a cultura. Os gaúchos são responsáveis por 70% da produção nacional e terminaram a colheita da safra 2020/2021 com aumento na produtividade.
"O esperado era 8.400kg/ha e fechamos em 8.800kg/ha”, revela o dirigente. A produção brasileira é estimada pela Conab em 11,6 milhões de toneladas, um aumento de 3,9% em relação ao ciclo 2019/2020.
O otimismo se justifica pela manutenção dos preços em patamares elevados. Apesar da colheita maior, os valores se mantiveram acima de R$ 100/saca até dezembro de 2020.
Este ano os preços vêm apresentando uma queda gradual, mas o setor avalia que ainda assim devem se manter em níveis remuneradores, muito acima da média histórica que já foi muito desfavorável ao setor arrozeiro.
Alexandre Velho afirma que esta perspectiva está relacionada ao mercado internacional que continua com bons preços, à medida em que países importantes como China e Índia vêm modificando as políticas de exportação.
Já o analista Gabriel Viana não está tão otimista. "A média atual é de R$86/saca e a tendência é de recuo nos próximos meses”, afirma.
Ele explica que nos primeiros meses do ano, com a colheita do grão, costuma haver uma queda de preços, o que desta vez não ocorreu.
"O produtor estava capitalizado, vendeu a preços excelentes no ano passado,
por isso teve a capacidade de segurar a comercialização, masà medida
em quecomeçam a ofertar o produto, o preço cai", Gabriel Viana
O analista também acredita que as vendas externas sejam menores este ano, já que o real mais valorizado e o preço da saca mais baixo acabam influenciando na chamada “paridade de exportação".
A consultoria Safras & Mercado projeta que as exportações no ciclo 21/22 cheguem a 1,4 milhão de toneladas, inferior ao volume de 1,77 milhão de toneladas registrado na última safra.
Na visão da Federarroz, a questão de o mercado estar favorável ou não às exportações não se limita ao câmbio. "Temos um grande diferencial de qualidade. O nosso grande concorrente é o arroz norte-americano, mas aqui plantamos o agulhinha e lá eles plantam o híbrido. Por este motivo, temos vantagem na preferência de alguns mercados consumidores, como o México”, explica Alexandre Velho.
Ele diz que, no quesito qualidade, somente o Uruguai pode concorrer com o produto brasileiro, mas a cotação no país vizinho "não fica abaixo de R$85/saca", o que mantém a competitividade por aqui, já que o Paraguai, apesar de também produzir arroz em boa quantidade, não atende as exigências qualitativas dos compradores. "Mercados como Iraque, Peru e Costa Rica, por exemplo, não abrem mão da qualidade", destaca.
O relatório de maio do Itaú BBA também aponta um cenário positivo para as exportações de arroz. Os analistas mencionam o fato de a Tailândia, importante player mundial, ter reduzido em 23% as exportações do cereal no primeiro trimestre de 2021, na comparação com o mesmo período do ano passado, o que abre oportunidades para os demais países exportadores.
O banco alerta, porém, que os produtores que preferem manter o grão estocado em função dos bons preços, devem ter cautela. A análise reforça os riscos que o câmbio pode trazer para o mercado do arroz, com possível perda de competitividade.
Mercado interno de Arroz
Atualmente, entre 85% e 90% da produção brasileira é absorvida pelo mercado interno. Produtores e analistas concordam que o boom nos preços registrado em 2020 também foi causado pelo aumento do consumo dos brasileiros. Mas descartam uma queda em função da ausência de um auxílio emergencial mais robusto este ano. Com a pandemia, o padrão de consumo mudou, as famílias ficam mais em casa e compram alimentos da cesta básica, o que favorece o arroz.
“Se uma família comer arroz todos os dias, ao final de um mês vai gastar R$30 com este item.
Ou seja, apesar da alta do ano passado, ainda é um alimento muito barato,
se comparado ao que o brasileiro mais consome”
Alexandre Velho, o presidente da Federarroz.
Para o dirigente, a crise econômica e o desemprego tendem a afetar primeiramente a opção pelo tipo de proteína, por exemplo, que é bem mais cara.
Neste cenário, analistas acreditam que os arrozeiros ainda podem esperar bons preços para a safra 2021/2022. Há pelo menos 5 anos o preço médio do arroz não passava de R$ 40/saca, valor que dificilmente voltará a ser registrado no curto e no médio prazos.
Com tanta valorização neste mercado, a área plantada deveria subir, certo? Poderia ser, mas não foi o que ocorreu. O presidente da Federarroz afirma que apesar dos preços em patamares muito mais altos, se comparados aos últimos anos, a concorrência com a soja segue forte.
Na metade sul do Rio Grande do Sul, por exemplo, de uma área que plantava 940 mil hectares de arroz, uma fatia de 360 mil hectares já foi transformada em lavouras de soja. “Quem trocou de atividade, não vai voltar. O arrozeiro tinha problemas estruturais e endividamento. O arroz está dando resultado, mas ainda fica abaixo da rentabilidade da soja", explica.
Foi por isso que na safra 20/21 a área plantada pelos gaúchos se manteve estável, segundo a Conab.
Analistas acreditam que o bom momento do arroz, por outro lado, pode incentivar o plantio em outras regiões do Brasil. O estado de Tocantins, de acordo com a Safras & Mercado, aumentou em 9% a área plantada na última safra, com chances de se tornar o terceiro maior produtor, atrás de Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O alerta para a próxima safra é o custo de produção da lavoura arrozeira, que deve aumentar 20%. A Federarroz recomendou aos produtores que façam a compra antecipada dos insumos este ano, já que os valores subiram em dólares, em paralelo aos efeitos que a taxa de câmbio já costuma provocar neste mercado.
Além das compras antecipadas é essencial conhecer as melhores práticas na produção de arroz para o aumento da produtividade e qualidade de grãos.