Agricultura

Capim-Arroz: O inimigo resiste

Produzir grãos no Brasil tem sido cada vez mais desafiador. Além das questões climáticas e o sempre complexo controle de pragas típico da agricultura tropical, ainda é preciso lidar com o aumento da resistência de algumas plantas daninhas à ação dos herbicidas. 

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Imagem 1. Capim-Arroz

Um dos casos que causaram maior preocupação na safra 2020/2021 foi a relação entre o capim-arroz (Echinochloa crus-galli var. crus-galli) e o glifosato, um dos princípios ativos mais utilizados na agricultura mundial.  O Comitê de Ação à Resistência de Herbicidas (HRAC-BR), representação nacional do Herbicide Resistance Action Committee (HRAC), reconhecido como organismo consultor pela Organização de Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização Mundial de Saúde (WHO) das Nações Unidas, divulgou um comunicado relatando a descoberta de caso da resistência do capim-arroz ao glifosato na região do município de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. 

O problema já vem ocorrendo em outras cidades gaúchas nos últimos anos e não é exclusivo dos agricultores brasileiros, como registra o portal weedscience.org, plataforma do HRAC. Em 2019, caso semelhante foi encontrado na Argentina, e há ocorrências diversas em outros países e em relação a diferentes princípios ativos de herbicidas. 

A notícia, por si só, já é preocupante, mas ganha ainda mais relevância por se tratar de um dos estados brasileiros com maior produção de grãos. Outro fator de extrema preocupação é a agressividade do capim-arroz, que pode afetar diversas culturas, como arroz, cana-de-açúcar, algodão, soja, milho, tabaco, feijão, diversas espécies de hortaliças e tubérculos. No arroz, por exemplo, pode reduzir em até 90% a produtividade. 

Planta invasora frequente, o capim-arroz prefere solos encharcados ou úmidos, com ocorrência menor em solos secos. Por esse motivo, costuma surgir em lavouras de arroz inundado e irrigado, com pouca ocorrência em solos secos. A daninha também é muito encontrada em lavouras anuais semeadas em solo úmido, como milho ou soja, em beiras de pastagens e de estradas e canais.

Da mesma forma que qualquer invasora, vai competir com a lavoura por recursos como água, luz, nutrientes e espaço físico, dificultando seu desenvolvimento. Além disso, nas lavouras de arroz pode provocar o acamamento das plantas, o que prejudica a colheita e gera mais perdas, inclusive de qualidade dos grãos. 

A primeira ocorrência de resistência ao glifosato, encontrada em 2020 e divulgada no início deste ano, aconteceu em uma lavoura de soja. O estudo que reportou a ocorrência indicou que o biótipo resistente ao glifosato pode também ter resistência cruzada a outros herbicidas do grupo G/9, ao qual pertence o glifosato.

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Imagem 2. Capim-Amargoso (esquerda) e Buva (direita) 

RESISTÊNCIA CRESCENTE

O Weedscience mostra que o aumento da resistência de daninhas aos herbicidas, de maneira geral, é um desafio gigante. De acordo com o portal, já foram registrados 519 casos no mundo, e um dos prejuízos causados por essa situação é a perda de aproximadamente 15% da produção mundial de grãos. No Brasil, o Weedscience computou, até o momento, 54 casos. Destes, um terço indicava resistência a herbicidas da classe G/9. Nas últimas dez notificações apontadas pelo site no país, oito referem-se à resistência a essa classe.

As descobertas de novos casos, cada vez mais frequentes, surpreenderam os pesquisadores, que não acreditavam ser possível acontecer a seleção de plantas daninhas resistentes ao glifosato. Antes do capim-arroz, biótipos resistentes do capim-amargoso (Digitaria insularis), do azevém (Lolium multiforum), e das três espécies de buva (Conyza bonariensis, Conyza canadenses e Conyza sumatrensis) tornaram-se uma preocupação no sul do Brasil. Casos de buva e capim-amargoso também começam a se expandir para as áreas de produção no Brasil Central. 

 

CUIDADOS NO MANEJO 

O produtor tem um papel fundamental no controle do capim-arroz, pois é o responsável pelo manejo de prevenção dentro de sua propriedade. Por isso deve estar atento e comprometido com as boas práticas agrícolas, medidas que vão proteger sua lavoura, seu investimento e sua rentabilidade, além de ajudar a evitar que a invasora se espalhe para outras propriedades. 

O manejo é sempre mais complexo e mais caro em áreas infestadas com plantas daninhas resistentes. Os alertas de entidades como o HRAC-BR servem para lembrar aos agricultores que o problema da resistência é uma realidade no país, mas também de que ainda é tempo de prevenir. No Centro-Oeste, por exemplo, as condições climáticas oferecem opções de manejo mais restritas, o que pode agravar ainda mais o problema, mas fazendo o controle de pragas de maneira adequada é possível prevenir a manifestação da resistência.

Utilizar o glifosato corretamente, dentro das especificações dos fabricantes e das recomendações dos engenheiros agrônomos é a melhor forma de garantir que sua eficiência e as vantagens do seu uso possam ser mantidas. Outro ponto de atenção deve ser com o maquinário, não permitindo a entrada de colhedeiras contaminadas com sementes de biótipos resistentes nas áreas de produção livres do problema. 

Acompanhe algumas orientações do HRAC-BR:

  • Usar corretamente o sistema integrado de manejo de controle de plantas daninhas;

  • Adotar sementes certificadas e nacionais;

  • Limpar o maquinário utilizado na semeadura e na colheita;

  • Fazer rotação de culturas;

  • Redobrar a atenção para áreas com falha de controle;

  • Usar corretamente as tecnologias de aplicação;

  • Utilizar herbicidas com diferentes mecanismos de ação.

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