Agricultura

O avanço do trigo no Cerrado

Levantamento realizado pela Conab aponta crescimento de quase 50% no volume produzido na Região Centro-Oeste e cultura vem crescendo rapidamente em Brasília, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Minas Gerais

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Levantamento de safra da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) mostra que a produção de trigo no Brasil deve crescer mais de 11%, passando de 6,9 milhões de toneladas. Esse avanço é uma boa notícia, mas ainda está distante de amenizar a necessidade de importação do cereal. No ano passado, a compra de trigo de outros países superou a marca de 6 milhões de toneladas, segundo dados divulgados pela Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo). A expectativa de apertar o passo na redução desse déficit vem do Cerrado, região que não tinha tradição na triticultura mas está se tornando referência no setor.

De acordo com a Embrapa Cerrados, há potencial para ampliar em vinte vezes a área de produção na região. A estimativa da Conab reforça essa ideia, pois o levantamento realizado em junho deste ano aponta crescimento de quase 50% no volume produzido na Região Centro-Oeste, passando de 186 mil toneladas na safra 2020 para quase 279 mil toneladas agora em 2021. Já a área plantada, acompanhando essa mesma comparação, passou de 57,7 mil hectares para 78,6 mil hectares, aumento de 36,2%. A cultura vem crescendo rapidamente em Brasília, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Minas Gerais, que já é o terceiro Estado em área plantada.

Esse intenso avanço do trigo além das linhas da Região Sul, a mais tradicional no cultivo do cereal, tem uma estreita relação com a biotecnologia, com o desenvolvimento de variedades que se adaptam com eficiência às características no Cerrado.

É uma região quente, então exige opções mais resistentes às altas temperaturas e às doenças de difícil controle nesse ambiente

Bruno Alves

gerente da BioTrigo para o Paraná e o Cerrado

A empresa, que tem sede em Passo Fundo (RS), desenvolveu um Programa de Melhoramento Genético do Cerrado. “Selecionamos as variedades já em um cenário de alta pressão, toda a seleção é feita nas condições da região onde o material será utilizado”, acrescenta.

Bruno Alves tem acompanhado de perto essa expansão da triticultura no Cerrado, e testemunhado importantes mudanças em relação ao setor. “Quando não havia esse processo de melhoramento genético específico para região, o pessoal tentava trabalhar com variedades utilizadas no Rio Grande do Sul, e muitas vezes não dava certo”, explica.

Mas com as opções certas e o manejo adequado, o trigo acaba trazendo uma série de benefícios até para as demais lavouras. Na rotação de culturas com o milho e a soja, melhora as condições do ambiente de produção, gera ganho de qualidade no solo, reduz infestação de nematoides, quebra o ciclo de doenças e ainda cria uma proteção a mais contra plantas daninhas, pois torna-se uma palha diferente nas plantações. 

O trigo é semeado com uma distância de 17 centímetros entre as linhas, bem menor do que a do milho, por exemplo, que vai de 45 a 50 centímetros. Isso favorece a distribuição de defensivos

Bruno Alves

gerente da BioTrigo

Mais do que as vantagens agronômicas, o trigo no Cerrado também gera ganhos econômicos para os agricultores e toda a cadeia, tanto que o incentivo ao desenvolvimento da cultura na região vem também das indústrias. “Toda a matéria-prima colhida no Cerrado é consumida aqui mesmo”, afirma Bruno Alves.

As particularidades da região ainda contribuem para que a rentabilidade seja mais favorável. A colheita ocorre ali pelo meio do ano, no mês de agosto, e casa com o período em que os estoques dos moinhos estão bem baixos, pois grande parte da colheita o sul do País acontece entre outubro e dezembro. Ou seja, a pressão da demanda gera preços mais altos.

O impacto da expansão do trigo no Cerrado não se restringe à cadeia produtiva do cereal, a multiplicação do cereal pela região beneficia as demais culturas, cria mais oportunidades para os agricultores e ainda amplia as perspectivas de o Brasil conquistar a autossuficiência no grão, ou pelo menos reduzir sua dependência do mercado externo. É a agricultura moderna cumprindo seu importante papel socioeconômico.

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