Agricultura
Manejo de resistência no controle de sarna da macieira | BASF
Se você quer entender de uma vez por todas o que é resistência fungo a fungicidas e porque a sarna da macieira é tão importante, leia este post.
Thais Pongeluppi - Doutora em Ciências
“coevolução”, a qual faz com que juntamente com a evolução dos fungicidas, venha a evolução dos fungos, tentando burlar o sucesso do controle químico e garantir a sobrevivência de sua espécie.
No intuito de explicar a resistência de fungos a fungicidas, vamos imaginar que uma população de um mesmo fungo, como por exemplo, o causador da Sarna da Macieira (Venturia inaequalis), seja heterogênea. Isto é, existem diferentes indivíduos do fungo, os quais podem ter diferentes suscetibilidades a um fungicida. Quando aplicado um fungicida eficiente, acaba-se controlando a maioria da população, mas alguns indivíduos resistentes sobreviverão. E quando se usa várias vezes um mesmo ingrediente ativo, ou utilizam-se sub doses ou até super doses de produtos, acaba-se controlando os indivíduos suscetíveis, no entanto, os resistentes crescerão em população até predominarem. Neste momento, o fungicida torna-se ineficiente. Este processo é o que chamamos de resistência. E devemos salientar que, quanto mais heterogênea a população do patógeno, mais fácil de haver resistência. Desta forma, entendemos que a rapidez e a intensidade da resistência ocorrer depende do uso do fungicida e da heterogeneidade da população do patógeno.
A resistência ocorre em maior frequência quando produtos sistêmicos são utilizados. Isso porque os sistêmicos atingem um ou poucos sítios vitais do fungo alvo, portanto, uma pequena alteração do patógeno já pode gerar resistência ao fungicida. E o contrário é verdadeiro, normalmente quanto mais amplo espectro for um fungicida, menores as chances de ocorrer a resistência, pois ele atinge vários sítios.
Para exemplificarmos os fungicidas de baixo risco de resistência, podemos citar os não sistêmicos de amplo espectro inorgânicos (sulfurados e cúpricos) e outros, orgânicos, Clorotalonil, Ditiocarbamatos, Fluazinam, Ftalimidas, Probenzole, Quinoxifen, Tricicazole. Estes produtos atuam de maneira generalizada, interferindo em vários sítios do patógeno.
Já outros produtos orgânicos como Benzimidazois, Dicarboximidas, Fenilamidas e Estrobilurinas podem causar alto risco de resistência, por atuarem em sítios específicos; e 2-aminopirimidina, Anilopirimidinas, Hidrocarbonetos aromáticos, Triazóis, Carboxianilidas, Cimoxanil, Dimethomorfo, Fentis, Fenilpirróis, Phosporothiolates, Pirimidinacarbinóis, são considerados de moderado risco de resistência, por atingirem poucos sítios do patógeno (AZEVEDO, 2007).
Agora vamos entender o caso da sarna da macieira, causada pelo fungo Venturia inaequalis (Figura 1). Este patógeno é capaz de cruzar e produzir estruturas sexuadas nas folhas caídas da macieira, que ficam cheias de esporos altamente variáveis. Portanto, a população deste fungo acaba sendo muito heterogenia/diversificada, e este é o grande motivo deste ser o patógeno mais importante da cultura da maçã, pois a alta variabilidade dificulta todo tipo de controle.
Um outro ponto importante que ressalta o problema de resistência de V. inaequalis é que o longo período de infecção dos pomares, assim como, a amplitude de áreas de plantio com variedades resistentes, o longo período de crescimento das plantas e a alta pluviosidade, acabam favorecendo o uso de frequente de fungicidas específicos. Dentre os fungicidas mais utilizados no controle de V. inaequalis está o Inibidor Biosíntese de Ergosterol (IBE) e, desde muitos anos são relatados problemas com resistência a produtos com este modo de ação.
Portanto, o manejo de resistência é fundamental no patossistema sarna & maçã e algumas estratégias devem ser obedecidas para ser possível um controle eficiente:
- Uso de fungicidas de contato, não sistêmicos a cada 7 dias na ausência de chuva e fungicidas sistêmicos e mesostêmicos também neste mesmo intervalo.
- Em momentos muito favoráveis ao patógeno, os fungicidas devem ser aplicados em suas doses máximas e em intervalos ainda menores do que 7 dias.
- Grupos de fungicidas devem ser intercalados. Exemplos desses grupos são IBE, anilo-pirimidinas e estrobilurinas. A associação de dois ou mais fungicidas de mesmo modo de ação, mesmo que sejam quimicamente diferentes, deve ser evitada, pois pode haver uma resistência cruzada.
- Deve ser feito monitoramento frequente da população de V. inaequalis quanto à resistência no país.
Desta forma fechamos este post, definindo suscintamente a resistência de fungo a fungicidas; que esta resistência depende da heterogeneidade da população do fungo e da sistemicidade e espectro de ação do fungicida; e que a sarna da macieira deve ser controlada com cuidado e adotando sempre estratégias anti-resistência.
Fonte Texto:
AZEVEDO, L.A.S. Fungicidas sistêmicos - Teoria e prática, 2007.
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