Agricultura

Quatro pontos importantes sobre a influência do clima na viticultura no semiárido brasileiro

Os aspectos climáticos influenciam e muito na cultura da uva nessa importante região produtora no país. Leia para entender mais sobre.

Henrique Dias - ESALQ-USP

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Antes de mais nada, você saberia responder onde, no país, cultiva-se a uva? O mapa abaixo apresenta as regiões produtoras de acordo com o total produzido (em toneladas) no ano de 2015.

A cultura da uva é cultivada em todos os estados brasileiros, com exceção da maioria presente na região norte do país e alguns no litoral nordestino. Do estado de São Paulo para baixo, com destaque para o Rio Grande do Sul, são as maiores regiões produtoras.

No entanto, há um importante polo produtor na região nordeste, nos entornos de Petrolina, Pernambuco (divisa com Bahia). Nessa região, há produção de diversos tipos de uva para mesa, sucos, vinhos e espumantes, os quais parte vão para exportação.

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E como é o clima nessas regiões? O mapa abaixo ilustra os principais climas do Brasil e aponta que a região de Petrolina se encontra em um clima denominado semiárido (BSh pela classificação climática de Koppën).

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Fonte do mapa: Alvares et al. (2013)

Agora, veja 4 pontos importantes para entender o efeito do clima na produção de uva nesse importante pólo produtor no país

Disponibilidade hídrica

Segundo dados da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a precipitação média nessa região é de cerca de 550 mm anuais, concentrados principalmente durante os meses de novembro e abril, sendo que março é o mais chuvoso e agosto o menos chuvoso.

A evapotranspiração de referência na região fica em torno de 1.660 mm no ano. Desse modo, a região é caracterizada por um grande déficit hídrico e há necessidade de irrigação dos parreirais de uva, os quais são realizados utilizando água do rio São Francisco.

Aspectos positivos

·        Por conta da disponibilidade da irrigação, há menor risco de quebra de safra por déficit hídrico.

·        Por ser uma região semiárida, o risco da maior parte das doenças é minimizado, por conta de pouca duração do período de molhamento foliar na maior parte do ciclo.

·        Facilidade para indução do repouso vegetativo, em virtude do déficit hídrico elevado.

Aspectos negativos

·        Como pode-se ter mais ciclos durante um ano nessa região, o excesso de chuva entre março e abril pode favorecer doenças da videira: i) no início do ciclo, principalmente nas folhas jovens; ii) na floração, o que compromete a fecundação e causa o aborto das flores e iii) no final da maturação, pode proporcionar a ruptura e a podridão das bagas.

·        Como a maior parte do ano é seco, ou seja, com umidade relativa do ar baixa, há favorecimento para o oídio da videira em épocas de temperaturas do ar favoráveis (20ºC a 27ºC).

·        Chuvas mais intensas e irrigações com grandes lâminas de água após período de grande déficit hídrico podem induzir à rachadura de bagas.

Radiação solar

A radiação solar influencia no crescimento e desenvolvimento das plantas de videira e no regime térmico de um local, sendo de suma importância para a produção de fito massa. Ela também condiciona a evaporação e a evapotranspiração das plantas, sendo que em regiões úmidas, apresenta intima relação com a evapotranspiração.

Aspectos positivos

·        O fator que mais contribui para fertilidade das gemas (responsáveis pela brotação de novas folhas e pelas flores) é a insolação, muito atrelada a radiação solar global, a qual é abundante nessa região.

·        Quando incidente diretamente nos cachos, favorece a coloração e espessura das bagas.

·        Favorece a fotossíntese em praticamente todo o período de cultivo das uvas, proporcionando maior teor de açúcares nos frutos.

Aspectos negativos

·        O excesso de radiação solar pode causar “queimaduras” nas bagas, o qual é um distúrbio fisiológico, prejudicando o aspecto visual para comercialização de uvas de mesa.

·        O excesso de radiação solar, tanto na segunda fase de crescimento da baga quanto a de maturação final, ocorre nos meses de agosto a novembro e pode afetar a coloração das bagas, prejudicando também o aspecto visual.

Temperatura do ar

A temperatura tem grande influência em vários aspectos da produtividade vegetal, sendo relacionada com o crescimento e desenvolvimento das plantas, pois exerce efeito na velocidade das reações bioquímicas e nos processos internos de transporte de água, nutrientes e produtos orgânicos.

As temperaturas médias do ar mensais variam, em média, de 23,8ºC a 27,8ºC em Petrolina. De acordo com a literatura, a temperatura do ar considerada boa para o desenvolvimento da videira se encontra entre 25ºC e 30ºC, ao passo que temperaturas inferiores a 10ºC e superiores a 45ºC são limitantes para o cultivo da uva.

Aspectos positivos

·        Não há problemas com baixas temperaturas do ar e geadas nessa região.

·        As temperaturas do ar no geral não limitam a fotossíntese, favorecendo a produção de açúcares e acúmulo destes nos frutos durante a maturação.

Aspectos negativos

·        Temperaturas do ar (intimamente ligadas à radiação solar) superiores acima de 35º desfavorecem a coloração das bagas, bem como favorecem a “queimadura” destas.

Ventos

Aspectos positivos

·        Importante na renovação de gases no interior dos parreirais, alimentando de CO2 o microclima e favorecendo a fotossíntese.

·        Em épocas mais úmidas, é fundamental para minimização do molhamento foliar, variável importante principalmente para doenças fúngicas.

Aspectos negativos

Ventos excessivos podem provocar danos físicos em parreirais em formação, favorecendo quebra dos ramos novos, danos as folhas, abortamento de flores, e interfere na abertura/fechamento dos estomatos e, consequentemente, na produtividade e na qualidade de frutos para consumo in natura e para processamento.

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