Agricultura

Fatores que afetam o desenvolvimento do míldio da videira e como manejar

Condições que favorecem o desenvolvimento da doença tendem a ser diferentes nas regiões produtoras brasileiras e o manejo demandará maior atenção em alguns locais.

Silvane Brand - ESALQ-USP

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O agente causal do míldio, Plasmopara viticola, é erroneamente denominado de fungo (Reino Fungi), pertencendo na verdade ao Reino Chromista, sendo um oomiceto. O míldio é uma das principais doenças da cultivo de uva, podendo infectar todas as partes verdes da planta, com danos maiores ocorrendo em flores e frutos.

Os sintomas iniciais da doença nas folhas são a formação de manchas mais ou menos circulares, com aspecto oleoso, levando à descoloração do tecido colonizado pelo patógeno e que após, com a evolução da doença, se torna pardo-avermelhado (Figura 1A). Já na face inferior da folha, ocorre a formação de esporulação de coloração branca. Os sintomas nas inflorescências são semelhantes aos observados nas folhas, resultando na formação de esporulação sobre elas, além de escurecimento da ráquis, evoluindo para secamento e queda dos botões florais (Figura 1B). Quando o fungo infecta as bagas, estas se tornam escuras, duras, com superfície deprimidas, o que leva à sua queda.

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Figura 1. Sintomas do míldio na folha (A), inflorescência (B) e cacho (C) da videira

Fonte: GARRIDO; SÔNEGO, 2003

Condições meteorológicas que favorecem á doença

O míldio se desenvolve sob condições de temperatura entre 18 °C e 25 °C, necessitando da presença de água sobre a superfície da planta por no mínimo 2 horas, podendo esse molhamento ser proveniente de orvalho, irrigação ou chuva. Para a esporulação do patógeno a umidade do ar precisa estar acima de 98%.

Medidas de controle

Como o míldio da videira é um patógeno biotrófico, ou seja, sobrevive apenas em tecido vivo, deve-se atentar para a presença de tecidos contaminados de uma safra para outra e realizar a eliminação desses restos culturais contaminados. Além disso, como o patógeno possui preferência por tecidos verdes, inflorescências e frutos, atenção especial deve ser dada a essas fases da cultura da uva e, caso seja necessário, aplicar às medidas de controle. Iniciando de maneira preventiva por meio de uma boa aeração e insolação da copa, a fim de diminuir o molhamento foliar, condição essencial para o desenvolvimento da doença. Além disso, deve-se usar espaçamento adequado, evitar áreas de baixada ou voltadas para o sul, utilizar adubação equilibrada e empregar á poda verde.

O controle com produtos de contato, como clorotalonil, ditianona e produtos à base de cobre, protege apenas a superfície que recebeu deposição do produto sendo que se deve optar por uma tecnologia de aplicação adequada para que haja um bom controle. O efeito residual destes produtos na videira é baixo, uma vez que não apresentam atividade sistêmica na planta, ou seja, não penetram nos seus tecidos, sendo assim, eles estando sujeitos à lavagem pelas chuvas, degradação por alta incidência de radiação solar e por altas temperaturas.

Já os fungicidas com ação trasnlaminar, como fenamidona, atuam no interior da folha por até 2 dias após a infecção, mas não circulam na planta, sendo aplicados na presença da doença ou de maneira preventiva. Por fim, fungicidas sistêmicos, como fosfonato, estrobilurinas, dimetomorfe, circulam pela seiva da planta, e podem controlar o patógeno em até 3 dias após a infecção, protegendo a planta por completo, mesmo nas áreas não cobertas pela pulverização. No entanto, não são recomendadas mais do que duas a três aplicações desses produtos na mesma safra, de modo a se evitar a seleção de indivíduos resistentes e, assim, à perda da eficácia do fungicida.

Uma outra técnica que vem demonstrando uma boa eficiência no controle do míldio é o uso de cobertura plástica, a qual ajuda a reduzir o molhamento foliar e a lavagem dos fungicidas, prolongando sua ação. Esta é uma boa alternativa para uvas de mesa, pois evita a presença de frutos danificados.

Apesar da agressividade desta doença, as medidas de controle do míldio devem ser realizadas somente quando as condições forem favoráveis ao seu desenvolvimento, porém, nas áreas com histórico da doença atenção especial deve ser dada, devendo-se monitorar a presença do patógeno a fim de realizar o controle da doença sempre que houverem condições climáticas favoráveis.

 

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Previsão climática para os meses de outubro, novembro e dezembro

De acordo com a previsão climática para o próximo trimestre (outubro, novembro e dezembro) do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a precipitação apresenta tendência de ser superior a média história na região Sul, parte do Sudeste, Centro-Oeste e Norte (Figura 2). Dessa forma, a região Sul e o estado de São Paulo, importantes produtores de uva, apresentam maior favorabilidade ao desenvolvimento de doenças. Além disso, as condições na região Centro-Oeste e Norte também tendem a favorecer os patógenos. Por outro lado, no Nordeste brasileiro as condições tendem a ser desfavoráveis ao desenvolvimento do míldio da videira, especialmente no polo produtor de Petrolina/Juazeiro.

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