Agricultura

Avanço feminino no setor canavieiro

Duas pesquisadoras comandam as pesquisas que levaram à aprovação da primeira variedade resistente à broca de cana-de-açúcar

Em maio deste ano, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), uma das instituições líderes no desenvolvimento de biotecnologia para a cultura da cana, conseguiu a aprovação de sua primeira variedade geneticamente modificada resistente à broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), uma das piores pragas que atacam os canaviais. Estima-se que o inseto seja capaz de causar prejuízos em torno de R$ 5 bilhões por ano ao segmento no Brasil.

À frente dessa conquista estão Adriana Capella e Silvia Yokoyama, exatamente as profissionais que em junho assumiram o comando da área de pesquisas no CTC: Adriana à frente do desenvolvimento de variedades geneticamente modificadas e Silvia liderando a área de regulação de novas descobertas.

Com essa mudança na estrutura organizacional, o CTC promoveu dois importantes avanços para o setor sucroenergético e para o agronegócio como um todo: mais eficiência na cadeia produtiva e maior representatividade feminina.

Um dos objetivos é, por meio da intensificação do melhoramento genético, colocar a cana em patamares mais elevados de retorno por área plantada, com o desenvolvimento de variedades cada vez mais produtivas e mais resistentes a pragas, a exemplo do que já vem acontecendo em culturas como a soja e o milho. Matéria-prima e infraestrutura para isso já existem, pois o CTC detém um dos maiores bancos de germoplasma da cana no mundo.

Essa possibilidade de evolução é muito bem-vinda, sobretudo diante da perspectiva de queda de produtividade da cana na safra 2021/22. De acordo com levantamento da Companhia Nacional de abastecimento (Conab), os canaviais brasileiros devem produzir 592,0 milhões de toneladas nesse período, uma redução de 9,5% em relação ao volume do período anterior, acima de 654,5 milhões de toneladas. A queda de produtividade de 2020/21 para a temporada atual deve ser de 5,5%. 

Trajetória de inovação

Adriana e Silvia chegaram aonde estão por mérito, por sua competência. Adriana é formada em biologia pela USP, tem mestrado em bioquímica pela Unicamp e atuou em pesquisa de melhoramento de plantas no setor privado, inclusive fora do País. Silvia é formada em engenharia de alimentos pela Unicamp, em políticas públicas pela Universidade de Chicago e também trabalhou em outras empresas antes de chegar ao CTC, em janeiro de 2018. Mas em um setor ainda predominantemente masculino é significativo – e até inspirador – que duas mulheres ocupem posições de liderança. Como disse Adriana em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo

Não somos só líderes da ciência, mas do negócio do CTC. Somos responsáveis pela tomada de decisões que afetam o dia a dia e o futuro do negócio
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Adriana Capella

formada em biologia pela USP

Essa conquista fortalece a ciência, o agronegócio brasileiro e também os motivos de existir o Dia Internacional da Mulher Rural, celebrado em 15 de outubro, uma data instituída pela ONU para destacar o papel da mulher no campo. De acordo com estudo apresentado por Embrapa, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e IBGE, com base no Censo Agropecuário de 2017, do total de mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais, apenas 947 mil são geridos por mulheres (18,7%), que administram cerca de 30 milhões de hectares, ou seja, apenas 8,5% da área total das propriedades, conforme o levantamento.

A participação efetiva da mulher no desenvolvimento do agropecuária é cada vez maior, não há dúvidas sobre isso, e deve continuar crescendo, como acontece em diversos outros setores da sociedade. E é importante que continue sendo celebrada, até o momento em que o gênero não precise mais ser destacado quando uma mulher se tornar uma liderança, em qualquer que seja o cenário. A modernização do agronegócio passa também por uma atualização dos conceitos sociais. 

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